SUVs ficarão mais baixos somente pelo fato de serem elétricos; entenda Antes mesmo de saber se um carro roda bem, se é bem equipado e confortável, usa bons materiais e tem motor eficiente, é seu estilo que atrai o primeiro olhar crítico. Essa é a responsabilidade que pesa nas costas de pessoas como Laurens van den Acker, um holandês de 57 anos.
Vice-presidente executivo de Design do grupo Renault, Acker concedeu uma entrevista aos jornalistas brasileiros no Salão de Paris (França), onde falou do orgulho de “suas crianças” expostas no estande da marca e de suas frustrações como profissional.
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Após alguns anos de seca, a Renault anunciou, em março, o lançamento de um inédito SUV no Brasil. Será montado sobre a nova plataforma CMF-B e contará com um também inédito motor 1.0 turbo. Não disse quando, e Acker não acrescentou nada. Ele supervisiona seis centros de design no mundo, da França ao Brasil, passando por Romênia, China, Índia e Coreia do Sul. E se limitou a dizer: “Será um carro bonito”.
Projeção de novo SUV compacto da Renault
João Kleber Amaral (Projeção)
O designer ficou mais à vontade ao falar dos protótipos que a Renault exibia em seu estande no salão, aos quais se referiu como “minhas crianças”: os protótipos Renault 4ever Trophy e R5 Turbo 3E, inspirados no design de modelos antigos.
“Esses ícones permitem às pessoas se conectar com a marca Renault. Talvez tenham dirigido no passado, pode ter sido o carro com que aprenderam a dirigir. Há uma conexão emocional por poder dirigi-los de novo. E a transição elétrica deu a esses carros nova credibilidade, são modernos novamente.”
Acker afirma que parte das montadoras caiu na banalidade: “Todas têm o mesmo tipo de veículo, e os Renault 4 e 5 nos dão caráter, apenas nós podemos fazê-los. Gosto dessa combinação. Pode-se ter um Megane E-Tech extremamente moderno e um Renault 4”. A versão de produção dos dois modelos “está muito próxima”, diz o designer: “A parte de cima do Renault é muito próxima da final. A parte de baixo não, mas toda a cabine é muito próxima”.
Renault Megane E-tech virá ao Brasil em 2023
Divulgação
Apesar da predominância atual dos SUVs, Acker acredita que a eletrificação vai determinar mudanças no design. “Os veículos vão ficar mais altos do que um sedã e mais baixos do que um SUV, pois teremos de pensar em autonomia. Temos de pôr as baterias no piso, o que desloca as pessoas para cima; mas, para avançar, vamos ter de fazer um veículo muito aerodinâmico, o que traz o teto para baixo. Será preciso espremer a cabine. O carro será mais baixo do que um SUV, o entre-eixos crescerá, as rodas serão maiores, a proporção será bem diferente no futuro.”
Acker se declara fã das luzes do carro – “elas são a última fronteira”. E destaca suas funções de iluminação, segurança e até boas-vindas, quando o motorista se aproxima do carro. “Eu adoraria colocar mais luzes no carro, porque a beleza delas é que se comunicam diretamente, em um idioma universal. Mas é também uma luta contra o CO2, pois quanto mais luzes no carro, mais aumenta o consumo”, diz.
Iluminação interna do BMW i7
Divulgação
Iluminação, segundo o designer, também deve contribuir muito para a segurança, tanto dos ocupantes do veículo como de pedestres. “O que espero é proteger todos cada vez melhor, contar com recursos – como iluminação – que alertem as pessoas que vão atravessar a rua, informem ‘hei, estou freando, estou acelerando’; que avisem quando as pessoas estiverem saindo do carro: ‘cuidado’. Isso não vai parar, pois a ambição final é zero morte, e estamos muito longe disso.”
Sabe-se que entre os protótipos por vezes delirantes exibidos em salões e os modelos que chegam às ruas há um limite, definido principalmente pelos custos dos projetos e até mesmo pela legislação. Acker afirma que “algumas coisas no carro não evoluíram”, ou evoluíram muito pouco em cem anos, como os limpadores de para-brisa e puxadores das portas.
Normalmente o carro de produção é muito diferente do apresentado como protótipo
Divulgação
Retrovisores já podem ser substituídos por câmeras, com benefícios para a aerodinâmica, “mas depende da legislação de cada país”, lembra o designer. “E quando se usam câmeras é necessário pôr telas no interior, o que representa custo.” Mas quando pergunto o que mais incomoda ao desenhar um novo modelo, a resposta de Acker surpreende:
“É a placa de licença, as coisas que temos de fazer para contornar… Você faz um carro lindo e tem de pôr a placa. Há diferentes tamanhos e cores nos países. Poderia ser um QR code, iria simplificar nossa vida tremendamente, especialmente numa área em que há preocupação com a segurança.”
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