Hatch recebe o motor do falecido Up! e freios menos eficientes. Será que isso vai acabar com sua boa fama? “Você vai pegar o Pole hoje?”, ouvi de um dos meus colegas de trabalho quando saía da redação. A referência em relação à neutralidade de gênero, que é quando você não se prende ao binarismo (masculino e feminino) para denominar uma pessoa ou objeto, se dá em razão da polêmica criada em torno de uma propaganda lançada em meados deste ano que retratava um casal homoafetivo que seria dono de um Volkswagen Polo.
O tribunal da internet ficou em polvorosa: enquanto alguns condenaram a escolha da marca alemã, outros celebraram o hatch como um representante de um movimento tão importante quanto a comunidade LGBTQIAP+ em uma indústria tão machista quanto a automotiva.
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Agora, o Polo volta às manchetes por motivos mais relevantes para os amantes de carros do que o julgamento do povo que não tem o que fazer a não ser tentar lacrar na internet se preocupando com as escolhas alheias.
O hatch teve seu visual renovado — de leve — para ficar mais parecido com a versão europeia: ganhou grade mais estreita, faróis com formato diferente e um novo para-choque. Atrás também mudaram o para-choque e os grafismos das lanternas, levemente escurecidas no modelo 2023 (na Europa, a peça agora invade a tampa do porta-malas).
Porém, a notícia mais importante sobre o novo Polo é a troca do motor 200 TSI pelo 170 TSI (Curiosidade: você sabia que o 200 e o 170 representam o torque em Newton-metro? Aqui na Autoesporte usamos kgfm, por isso aparentemente a nomenclatura não faz sentido). E não é um motor novo ou mais moderno não! É o mesmo usado no falecido Up! TSI, que se despediu do mercado no ano passado.
As lanternas permanecem com o mesmo formato, ao contrário do modelo europeu, no qual as peças invadem a tampa do porta-malas
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Existem dois motivos principais para essa troca. O primeiro, de natureza técnica, é deixar o carro mais econômico e menos poluente, já que as exigências quanto a emissões tendem a ficar cada vez mais rígidas. Já o segundo é o que a Volkswagen chama de sua nova política de preços, tanto que o hatch realmente ficou mais barato.
A versão topo de linha, Highline, que ilustra estas páginas na nova cor Vermelho Sunset, ficou R$ 7.000 mais em conta. Isso porque o Gol será tirado de linha em breve, então o Polo assumirá o papel de modelo de entrada da montadora.
Mas não foi só a perda de alguns cavalinhos que justificou essa redução no preço. Nas versões turbo, o carro também perdeu um componente importante: os freios a disco nas rodas traseiras, que passaram a ser a tambor. Então chega de papo furado, porque agora eu vou contar o que todas essas diferenças técnicas significam para o modelo — seja para o bem, seja para o mal.
Europeu, mas nem tanto: a dianteira ficou mais parecida com a do irmão vendido no Velho Continente, mas a traseira não mudou
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Sem surpresas, o desempenho deu uma decaída em relação ao anterior. Isso porque o motor 1.0 TSI atual é menos potente que o anterior: são 116 cv com etanol e 109 cv com gasolina (no Up! ele tinha 105 cv/101 cv) ante os 128 cv e 116 cv, respectivamente, do antecessor. O torque caiu de 20,4 kgfm para 16,8 kgfm (com ambos os combustíveis). E isso se refletiu na pista, é claro.
Com etanol no tanque, o Polo 2023 cumpriu o 0 a 100 km/h em 11,3 segundos, tempo superior não só ao do modelo que substitui (9,8 s) como também ao anunciado pela fabricante, de 10,5 s. Todos os dados de aceleração e retomada foram prejudicados com a mudança de motorização, como era de esperar.
E a troca dos freios a disco nas rodas traseiras por tambores também influenciou na piora das frenagens; agora o carro precisa de 1,1 metro a mais para chegar à imobilidade partindo de 100 km/h. O downgrade, porém, não foi tão prejudicial quanto poderia ter sido, com diferenças que não se refletem tanto na performance no dia a dia.
Volkswagen Polo 2023 trocou o motor de até 128 cv para uma versão de até 116 cv
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O Polo manteve a boa dirigibilidade que já lhe era consagrada, além de ter uma pegada mais leve e esportiva que a de muitos rivais. Tanto que o “ronquinho” das acelerações mais fortes é até gostoso de ouvir, ao contrário do que ocorre com outros modelos 1.0 que “berram” quando é preciso pisar mais forte no pedal da direita.
Ou seja, quem está acostumado com o hatch — e gosta do seu conjunto geral — vai perceber pouca diferença atrás do volante. O carro tem força suficiente nas saídas de semáforo e nas ultrapassagens e é bem ágil para enfrentar o trânsito pesado, além de ter um ajuste de suspensão redondinho.
Como as mudanças estéticas não alteraram as medidas, o Polo continua sendo um bom representante no universo concorrido dos hatches compactos. Comparado com os principais rivais, tem entre-eixos maior que o de Chevrolet Onix e Hyundai HB20 (ambos com 2,53 metros, contra os 2,57 m do Volkswagen) e porta-malas de 300 litros, também praticamente igual ao dos concorrentes (300 l do HB20; 303 l do Onix).
Polo Highline tem bom acabamento e central multimídia VW Play com tela de 10″
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Apesar de a grande maioria da população achar um absurdo pagar mais de R$ 100 mil por um carro desse porte (eu, inclusive…), os preços das versões de topo dessa trinca também são compatíveis. Isso significa que o Polo chega com força para brigar pela ponta da tabela dos mais vendidos, onde os rivais são figurinhas carimbadas.
Por outro lado, existe um dado que, sim, pode fazer diferença nesse novo modelo: o consumo. Segundo nossas medições, o antigo Polo 200 TSI rodava 8 km/l na cidade e 9,8 km/l na estrada com etanol. Já o 170 TSI registrou a excelente marca de 9,8 km/l no circuito urbano e 13,7 km/l no rodoviário.
Em tempos de combustíveis nas alturas, mesmo que os dias mais tenebrosos pareçam ter passado, o brasileiro resolveu prestar mais atenção nesse quesito, que passou a ser uma das prioridades na hora da compra. Vantagem para o hatch alemão.
Mesmo com essa queda na performance — atenuada pela boa economia de combustível —, a verdade é que o Polo (ou Pole, Pol@, Polx, seja lá como você queira chamá-lo) continua sendo um carro bom de dirigir, não importando sua tribo, seu gênero ou sua identificação sexual. Sim, eu fui para casa dirigindo o Pole, ops, o Polo. E feliz da vida.
Volkswagen Polo Highline
Volkswagen Polo Highline
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