O novo Ford mostrava muitas virtudes, apesar da falta de direção hidráulica e de carburador eletrônico Teste publicado originalmente na revista Autoesporte num. 337, de junho de 1993.
Desde que foi exibido no último Salão do Automóvel, em outubro de 1992, o Ford Escort vem dando mostras de vitalidade surpreendente no mercado brasileiro. As opiniões sobre seu estilo são quase unânimes: trata-se do duas portas mais bonito produzido hoje no Brasil. Exceto alguns detalhes de carroçaria e motorização, o novo carro-chefe da Divisão Ford da Autolatina se confundiria facilmente com os modelos europeus da marca num confronto direto.
O mais notável da evolução estilística foi a Ford ter conseguido fazer um carro pequeno se transformar visualmente num médio verdadeiro, apesar de o novo ser um pouco menor em comprimento que o antigo.
Para isso concorrem os para-lamas alargados de modo suave, inclusive sem as abas nas aberturas de roda que todo carro tem (até o “primo” VW Logus), as maiores largura e altura totais e o pequeno ângulo entre o para-brisa e o capô. A dobra invertida (para dentro) em toda a extensão lateral do veículo é outra “marca registrada” do novo Escort, além do para-brisa e vigia traseira agora colados.
Nova geração era um pouco menor que a anterior, mas aparentava ser maior
Autoesporte
Na parte interna há uma sensação agradável de amplitude, junto com boa visibilidade, superior à do modelo anterior. Alguns itens de conforto são logo notados, como o ajuste de altura dos cintos dianteiros, o volante ajustável em distância (coluna telescópica) e a regulagem em altura do banco do motorista, em complemento aos ajustes tradicionais. A distância entre-eixos maior em 10 cm produziu o efeito esperado de aumentar o espaço para pernas no banco traseiro, uma deficiência no carro antigo.
Ford Escort RS volta à vida com 296 cv e custa R$ 2 milhões; entenda
Para fazer funcionar o motor 1,8 litro a álcool, o primeiro senão: o ângulo de entrada da chave de ignição/partida está longe de ser o lógico, pois ela entra apontada rigorosamente para a esquerda. No começo, é preciso paciência e atenção.
Colocando o veículo em movimento, a suavidade da alavanca de câmbio logo se destaca. O novo Escort foi o primeiro carro nacional a adotar o comando de câmbio por cabos flexíveis, abandonando o tradicional sistema de varetas rígidas. A força necessária para passar as marchas é menor do que tudo conhecido hoje. Só o curso longitudinal da alavanca poderia ser revisto pelo fabricante, por ser muito longo.
O interior era bem caprichado, mas a direção hidráulica era opcional
Autoesporte
Dirigindo o novo Escort, nova (boa) surpresa: os pedais estão no lugar certo agora, antes muito à esquerda (sem motivo, já que os Escort de tração dianteira nasceram com motor transversal). Foi herdado do modelo anterior o exclusivo ajuste automático de folga de embreagem, em que um sistema de catraca substitui com vantagem o habitual pedal sem batente de repouso, que o faz ir subindo à medida que o revestimento de embreagem vai gastando — alterando o lugar onde a embreagem “pega”.
+ Quer receber as principais notícias do setor automotivo pelo seu WhatsApp? Clique aqui e participe do Canal da Autoesporte.
O Ghia testado não tinha a direção hidráulica opcional. No lugar, o sistema sem assistência que inova pela relação variável entre os movimentos do volante e das rodas. O objetivo foi tornar a direção mais leve em manobras (conseguido) sem deixar a direção lenta demais em retas e curvas. Isso foi obtido por um passo (distância entre dentes) diferenciado na cremalheira da caixa de direção, menor no centro e maior nas extremidades.
Ovo de Colombo? Sem dúvida. Só que é preciso um pouco de atenção em mudanças de trajetória nas curvas apertadas, pois, de repente, passa a ser necessário mais movimento do volante. Por isso, a direção hidráulica (de relação constante) é um item recomendável.
O Escort Ghia chegou aos 174 km/h no teste de Autoesporte
Autoesporte
Com o motor a álcool de 95,2 cv e pesando 1.035 kg, o Ghia corresponde às expectativas da maioria dos compradores, o que não acontece com o motor a gasolina de 91,1 cv. Acelera de O a 100 km/h em 12,2 s e chega a praticamente 175 km/h. Mesmo sem usar muito o câmbio consegue-se boas retomadas de velocidade, dada a conhecida elasticidade do motor AP-1800, embora seja melhor engatar uma marcha mais curta nas ultrapassagens.
O motor a álcool não vem com o carburador eletrônico da versão a gasolina (controle da rotação da marcha-lenta por meio de microprocessador, mesmo durante a fase de aquecimento), mas seu funcionamento na fase fria é impecável quando o afogador é usado corretamente.
Achado usado: Ford Escort XR3, o esportivo nacional “atestado” por Senna
Contudo, é estranho o ruído de aspiração do motor nas acelerações, pois o AP-1800 sempre foi silencioso em todos os aspectos, e também pelo moderno filtro de ar remoto, que deveria evitar esse incômodo.
O coeficiente de forma (Cx) baixou de 0,38 para 0,35, mas a área frontal aumentou em cerca de 5%, um praticamente anulando o outro. Assim, o novo Escort na versão 1,8 litro a álcool, com cerca de 100 kg a mais que o anterior, não é dos mais econômicos. Na cidade, fez 6,9 km/l e, na estrada, não passou de 10,1 km/l, segundo a metodologia de Autoesporte.
Motor AP 1.8 tinha carburador eletrônico só na versão movida a gasolina
Autoesporte
O rodar nas variadas situações se mostra seguro e previsível, principalmente nas curvas típicas de estrada. Mesmo com suspensão calibrada para favorecer conforto, as atitudes em curva são sempre corretas, com ligeira saída de frente e bom controle das oscilações pelos amortecedores (pressurizados). Mas a aceleração lateral (que exprime o quanto um carro “agarra” nas curvas) medida no skidpad não foi expressiva: 0,77 g. Isso era esperado devido aos pneus 175/70-13, que dificilmente levam carros desse porte ao patamar de 0,80 g.
A suspensão do novo Escort diverge inteiramente dos conceitos usados no antigo. A dianteira conta agora com braço triangular para locação longitudinal da roda, independentemente da barra estabilizadora; o eixo de articulação do braço é vertical, possibilitando movimentos controlados das rodas dianteiras em situações extremas (como golpear uma pedra na estrada), para maior estabilidade direcional; na extremidade dianteira há dois subchassis, quando antes não havia nenhum.
Na traseira, eixo de torção tipo Volkswagen, que se comporta como suspensão independente e elimina a necessidade de ajuste periódico de convergência.
Ângulo de entrada da chave na ignição apontava para a esquerda, causando estranheza
Autoesporte
Os freios se mostraram à altura do desempenho, proporcionando desacelerações seguras. De 80 a 0 km/h, por exemplo, o carro percorreu apenas 33,2 m, boa marca para frenagem com travamento total das rodas. Nas frenagens é sempre possível boa modulação, para evitar que as rodas venham a travar, e a dissipação de calor é rápida. Os freios dianteiros a disco do novo Escort trazem inovação quanto ao fluxo do ar de arrefecimento, que é da base do disco, pelo lado de fora, para a periferia (não mais por dentro).
Alguns itens podem melhorar: a alavanca usada para trocar farol alto/baixo é incômoda; os cintos dianteiros apertam demais o corpo; e, por último, falta um odômetro totalizador de seis dígitos, como convém a um carro moderno.
O novo Ford é eficiente, muito bonito e chamativo e — para quem aprecia os bons detalhes — tem limpador de para-brisa digno de carro de corrida. É fantasticamente rápido.
Resultado dos testes – Ford Escort Ghia 1993
Ficha técnica – Ford Escort Ghia 1993
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.
Mais Lidas
Fonte: Read More