Guerra na Ucrânia, fechamento de fábricas e cancelamento de salões afetaram o Brasil e o mundo ao longo do ano Quem pensou que 2022 seria mais tranquilo por conta do arrefecimento da pandemia do coronavírus e a normalização no fornecimento de peças na indústria, se enganou. Ao longo do ano, não faltaram polêmicas e escândalos.
Como parte da nossa série de matérias de retrospectivas, Autoesporte traz nos próximos parágrafos os escândalos e as polêmicas do mundo dos carros em 2022.
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Guerra na Ucrânia e medidas contra a Rússia
Logo no início do ano, em 24 de fevereiro, após semanas de tensões, a Rússia invadiu a Ucrânia, iniciando uma guerra que ainda parece longe de uma solução. O Ocidente reagiu de forma imediata com uma série de sanções aos russos – e as fabricantes de automóveis não ficaram de fora.
Dois dias após a invasão, a FIA anunciou o cancelamento do Grande Prêmio da Rússia de Fórmula 1.
Fórmula 1 foi a primeira a anunciar consequências à Rússia após a invasão da Ucrânia
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Ainda na primeira semana da guerra, Volvo, General Motors, BMW, Renault, Volkswagen, Jaguar Land Rover, Toyota, Mazda, Honda e Ford suspenderam as operações na Rússia e se mostraram preocupadas com o conflito.
Mas uma fabricante em especial teve maior destaque na forma de lidar com a situação. A Renault levou quase três meses para tomar uma decisão sobre a operação local.
Fábrica da Renault em Moscou foi vendida para o governo
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Antes de o conflito estourar, a Rússia era um dos mercados mais importantes para o grupo francês – dono de 68% das ações da AvtoVAZ, montadora russa que fabrica os carros da Lada, além de 30% de participação de mercado no país e empregando cerca de 40 mil pessoas. A operação local correspondia ainda por 10% de todo o lucro mundial da marca.
Em maio, o grupo disse que vendeu toda sua participação da Renault Rússia para a cidade de Moscou. Além disso, as ações da AvtoVAZ também foram comercializadas. Os valores não foram revelados.
Apesar de ter saído da Rússia no início da guerra, Ford e Mercedes só anunciaram as vendas das operações locais em outubro.
A Ford vendeu sua participação na joint venture com a Sollers na Rússia
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A marca norte-americana vendeu sua participação de 49% na joint venture Sollers-Ford “por um valor nominal”. Já a Mercedes passou os ativos para a Avtodom, uma rede russa de concessionaria de automóveis e manteve a participação de 15% na Kamaz, famosa montadora de caminhões no país.
Para os russos, além dos prejuízos óbvios de um isolamento com o resto do mundo, ainda pode haver um retrocesso nos carros produzidos e vendidos no país. Em seu blog pessoal, o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin sugeriu que as fábricas da Renault voltassem a produzir carros da marca Moskvich, criada em 1929 como uma fabricante estatal de carros populares.
Atualmente, modelos da chinesa Jac são feitos na Rússia com a marca Moskvich. Um deles é similar ao T60 que saiu de linha recentemente no Brasil.
Tesla enfrenta problemas
A Tesla, fabricante de carros elétricos do bilionário Elon Musk teve alguns motivos para comemorar – e outros para lamentar.
Tesla Gigafactory Berlin
Reprodução/Youtube
Em março, a marca inaugurou sua primeira Gigafactory na Europa – exatamente no berço do automóvel, a Alemanha. A fábrica nas redondezas de Berlin tem capacidade para fazer 500 mil veículos por ano. Mas foi nesse mesmo país que a Tesla viu o surgimento de um escândalo. A empresa foi acusada de esconder falhas estruturais do Model 3.
Segundo a acusação, uma oficina licenciada pintou a rachadura na carroceria de um Model 3 para esconder danos estruturais. O caso é analisado pelo Tribunal Regional de Munique, que contratou um especialista para averiguar o carro elétrico.
De acordo com os resultados da perícia, o Tesla Model 3 seria reprovado em sua próxima inspeção veicular obrigatória. Na internet, chovem reclamações de donos de carros da marca sobre as pinturas dos veículos.
Acidente causado pelo Autopilot da Tesla
Laguna Beach Police Department
Outra acusação parece ser ainda mais grave. A Agência Nacional de Transportes Terrestres dos Estados Unidos (NHTSA) está investigando uma série de casos em que o sistema de condução assistida Autopilot foi desligado automaticamente menos de um segundo antes de os carros se envolverem em acidentes.
As autoridades descobriram esse padrão de comportamento em 16 casos de acidentes envolvendo carros da Tesla. Segundo a agência, a combinação do mau funcionamento do piloto automático com o comportamento exacerbado de um motorista que se vê em risco aumenta a possibilidade de acidentes graves.
Elon Musk sempre defendeu que a empresa não pode ser responsabilizada por acidentes em que o Autopilot não estava ativo. Entretanto, com a nova apuração do governo dos Estados Unidos, o argumento pode ser invalidado.
Mais fábricas fechadas
Por aqui, duas fabricantes decidiram fechar fábricas – atitude que parece ter se tornado comum no Brasil. Em abril, a Toyota anunciou que iria encerrar a operação em sua primeira unidade construída fora do Japão – a fábrica de São Bernardo do Campo (SP), responsável pela produção de motores e outras peças.
Fábrica da Toyota em São Bernardo do Campo nos anos 1960
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O fechamento está sendo feito de forma gradual e o local será totalmente desocupado até novembro de 2023. A produção de peças e o setor administrativo foram transferidos para as outras fábricas da marca no interior de São Paulo.
No mês seguinte, foi a vez de a Caoa Chery paralisar as operações em Jacareí (SP) e tirar de linha o SUV compacto Tiggo 3X, lançado apenas onze meses antes. De acordo com a empresa, o local será modernizado e vai reabrir nos próximos anos.
Salões em crise
Última edição do Salão de Genebra com público, em 2019
Divulgação
A crise dos grandes salões não chega a ser uma novidade. Mas o ano de 2022 trouxe novos desdobramentos.
Ainda em fevereiro, a organização do Salão de Genebra disse que a edição de 2023 não aconteceria na Suíça – apenas a segunda edição, prevista para novembro do ano que vem no Catar (!!) está confirmada.
A mostra suíça ainda não conseguiu se recuperar após a pandemia. Em 2020, o evento foi cancelado três dias antes da abertura – edições posteriores, em 2021, 2022 e 2023 foram anunciadas, mas nunca aconteceram.
Salão Duas Rodas ficou para 2023
Auto Esporte
No Brasil, o Salão Duas Rodas, maior feira de motos da América Latina, foi adiado de 2022 para 2023. Segundo os organizadores, a mudança no calendário aconteceu por “indisponibilidade de espaço em datas adequadas”.
Já o Salão do Automóvel, que mudaria de nome, endereço e formato – foi cancelado e não tem nova data para acontecer.
Nem mesmo a proposta de ser realizado no Autódromo de Interlagos com experiência de pista, exposição de carros e até possibilidade de vendas convenceu as fabricantes de investir no evento. Assim, a edição de 2022 acabou não acontecendo.
Alpine Alpenglow, apresentado no Salão de Paris
Marcus Vinicius Gasques
Na Europa, o Salão de Paris foi realizado – mas menor do que nos anos anteriores. Sem marcas alemãs, os destaques foram a anfitriã Renault e a Jeep, que apresentou o Avenger, modelo compacto que usa a mesma base do Peugeot 208.
Polo e a polêmica do comercial
Em maio, uma propaganda antiga da Volkswagen dominou as redes sociais e transformou a internet em uma zona de guerra (bem diferente daquela mencionada parágrafos acima).
A imagem trazia um casal homoafetivo em frente ao Polo com a seguinte legenda: “Sabe quem evoluiu junto com você? O Polo”.
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Houve quem celebrasse a propaganda e a diversidade em uma marca culturalmente masculina, mas também apareceram supostos donos de Polo dizendo que iriam vender seus exemplares do hatch e quem defendesse o fechamento da Volkswagen (!!!).
A Volkswagen não fechou, o Polo segue à venda – inclusive com atualizações – e o mundo continua evoluindo. Pelo menos deveria, com mais respeito à diversidade. Que em 2023 possamos falar de outros temas e que a homofobia fique no passado. Um feliz ano novo!
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