Opinião: Lula usa visita a fábricas para antecipar campanha à reeleição

Presidente Lula está de volta às fábricas, mas troca papel de líder sindical pelo de candidato à reeleição No início desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a fábrica da Nissan em Resende (RJ) para participar do anúncio do início de produção da segunda geração do Kicks no Brasil. O chefe do poder executivo brasileiro aproveitou a ocasião para assinar o decreto que regulamento o programa Mover.
Antes, Lula já havia visitado em março o complexo da Stellantis em Betim (MG). Uma semana depois, estava na Toyota, em Sorocaba (SP). Em todas, circulou entre trabalhadores, enfileirados junto às linhas de montagem, distribuindo abraços, beijos e selfies ao lado dos operários. A cena parece repetição da turnê feita em 2024 nas fábricas da Renault, Volkswagen e da própria Stellantis em Goiana (PE).
Lula começou a peregrinar pelas fábricas com mais frequência desde que foi aconselhado por auxiliares do Palácio do Planalto a viajar mais, aparecer mais.
Lula fez campanha política nas linhas de montagem
Ilustração: Gustavo Maffei
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A indústria automobilística o motiva a seguir esses conselhos. O ambiente de trabalho metalúrgico o remete às bases, ao início de sua carreira política. Nas fábricas, Lula parece se sentir em casa. E ganha, em troca do carisma que esbanja nesses locais, o entusiasmo dos trabalhadores, que aplaudem e puxam tradicionais jingles das campanhas políticas do petista.
O passeio pela área de produção costuma anteceder uma solenidade que, sabiamente, as montadoras organizam sob qualquer pretexto. Motivos para montar um palco aproveitando a visita do presidente não faltam. Mesmo que seja para voltar a anunciar investimentos já divulgados, como aconteceu na Stellantis e Toyota. Ou inaugurar um centro tecnológico.
Lula e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, em visita à fábrica da Volkswagen no ABC em 2003, a bordo de um Polo Sedan, e em 2024, desfilando em um Virtus, ambos conversíveis
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Os dirigentes das montadoras recebem o visitante com entusiasmo. Tiram proveito dos discursos de ministros, governadores, prefeitos e do próprio presidente enaltecendo os programas de investimentos do setor e a abertura de novos postos de trabalho.
Tem sido comum Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, apontar a indústria automobilística como força do crescimento do Produto Interno Bruto em 2024.
Lula assina decreto de programa que destina R$ 19 bilhões a montadoras
6 carros que já pertenceram a Lula, presidente do Brasil
Renault Kardian coversível foi usado em desfile de Lula
Divulgação/Renault
Em troca, o governo é favorecido com os elogios às medidas governamentais que aparecem nos discursos dos dirigentes das montadoras nesses eventos. “O Brasil é referência de país estável num cenário em que despontam incertezas”, disse o presidente do conselho da Stellantis, John Elkann, na visita à fábrica em Betim.
Às vezes, os pretextos para montar um evento precisam se organizados às pressas. No caso da Stellantis, estava previsto, inicialmente, que Elkann iria até Brasília se encontrar com Lula. Mas, de última hora, o presidente da República decidiu aproveitar uma viagem a Minas Gerais, já marcada, para passar pela fábrica de veículos.
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Circular nas fábricas oferece oportunidades para destacar ações do governo em favor da classe trabalhadora. Na Toyota, em determinado momento da visita à linha de montagem, Lula se posicionou no meio de uma pequena roda de operários para contar que o Executivo acabara de enviar à Câmara um projeto que isenta do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil por mês.
Presidente Lula em visita à fábrica da Stellantis em 2025
Stellantis
Não é de hoje que o setor automotivo está em lua de mel com o atual governo. Há um ano, Lula e ministros foram a São Paulo para participar da inauguração da nova sede da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
É bem provável que as linhas de montagem continuem no roteiro de Lula — que, ao que parece, já entrou em ritmo de campanha para a eleição presidencial em 2026.
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