Engenheiro acredita que a solução mais viável para diminuir os poluentes seja o etanol Carros antigos poluem menos que os modernos, concluiu recente relatório da seguradora britânica Footman James. Clássicos, justifica a companhia, rodam não mais que 2 mil km por ano e, com essa quilometragem, despejam 563 kg CO2 pelo escapamento, quantidade seis vezes menor que a média de um carro novo que roda todos os dias.
Uma leitura desatenta pode levar você a concluir que um Tatra T603 1967, com seu V8 refrigerado a ar e alimentado por dois carburadores Jikov 30 SSOP, contamina menos o ambiente do que um carro fabricado na semana passada.
Não é bem assim: 15 dias antes de o relatório ganhar espaço na mídia de todo o mundo, a associação dos fabricantes, Anfavea, atualizou os cálculos de emissões veiculares e assegurou que a quantidade de poluentes expelida por um carro de 20 anos equivale às emissões de 23 carros novos.
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Sim, há outros agentes responsáveis por emporcalhar o ar que respiramos, como aviões, navios, caminhões e aquele tanque do Exército brasileiro, sem falar na flatulência desenfreada dos nelores do Acre e das ovelhas da Nova Zelândia.
Mas vamos nos concentrar na poluição provocada pelos quase 1,5 bilhão de automóveis espalhados pelo mundo — inclusive a frota de 16 milhões de carros elétricos. “O problema não vai ser resolvido de um dia para outro”, opina Besaliel Botelho. “Há muitas questões a serem resolvidas, entre as quais a geração de energia limpa.”
Desde que deixou o comando da Bosch América Latina, no fim do ano passado, Botelho tem se dedicado a estudar o impacto da poluição veicular. Como todo especialista na área, ele também acredita que a mobilidade elétrica é a solução para um planeta menos poluído.
No entanto, não concorda que não se pode falar em emissões zero quando se sabe que o processo de produção de um carro elétrico ainda é poluente e que mais de 85% da energia gerada no mundo provêm do carvão e do petróleo, apesar do acelerado avanço das fontes de energia limpa notadamente na China e nos Estados Unidos.
Produção de um carro elétrico ainda é poluente
Divulgação
Botelho lembra que 83% da energia produzida no Brasil são limpos, o que tornaria o país ambiente ideal para rodar com carro elétrico. “Como isso parece distante em função do elevado preço do elétrico e das barreiras de infraestrutura para a recarga das baterias, a solução mais viável para nós ainda é o etanol”, afirma.
Há ainda um dado significativo: em 15 anos, de 2003 a 2018, 600 milhões de toneladas de CO2 deixaram de ser despejadas na atmosfera em virtude dos veículos movidos a combustível vegetal.
O empecilho é o preço final do etanol, mais caro que a gasolina em algumas regiões. “Para contornar isso, uma das soluções seria a venda de crédito de carbono com benefícios revertidos para quem abastece com etanol”, sugere.
Para tanto, é preciso vontade política. Vale lembrar que Besaliel Botelho, engenheiro eletrônico formado na Alemanha com MBA pela Universidade de São Paulo, foi um dos responsáveis por viabilizar a tecnologia flex no Brasil.
Porém, como Botelho disse, a questão da poluição veicular não será resolvida de um dia para outro: demoramos 70 anos para eliminar de vez da gasolina o chumbo tetraetila — um aditivo altamente cancerígeno, responsável por 1,2 milhão de mortes prematuras por ano, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Em julho de 2021, e só em julho de 2021, a bomba de combustível de um posto em Argel, capital da Argélia, despejou a última gota do veneno no tanque de um carro.
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