Fabricantes estão readequando turnos e dando férias coletivas, mesmo após projeções de aumento na produção e no varejo Depois de as fabricantes suspenderem a produção durante quase seis meses por conta da pandemia de Covid-19, seguida pela falta de semicondutores, o ano de 2023 começou com um gosto de dejà-vu. Isso porque nas últimas semanas Chevrolet, Volkswagen, Fiat, Jeep, Citroën, Peugeot e Hyundai precisaram pausar as atividades (parcialmente ou integralmente) dentro das fábricas, dando férias coletivas e até encerrando turnos, como foi o caso das francesas.
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O motivo, desta vez, é diferente: a maioria das empresas alega que precisou readequar a demanda de produção para que o estoque não aumente. Em outras palavras, irão produzir menos para que o pátio não lote e assim precisem fazer a famosa “queima de estoque”.
Porém, algo nessa história chama bastante a atenção. Em 6 de janeiro deste ano, pouco mais de dois meses atrás, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) anunciou que projetava crescimento de 4,1% no volume de produção de automóveis e comerciais leves para 2023, com cerca de 2,24 milhões de unidades fabricadas.
No entanto, parece que o varejo freou essa tendência de alta. De acordo com Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics, o consumidor não quer e não consegue pagar o valor oferecido pelo veículo zero km. “Não está tendo crédito suficiente no mercado e, se tem crédito, está com uma taxa de juros extremamente alta”, afirma.
Consumidor brasileiro não sabe se conseguirá pagar suas dívidas
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Atrelada à elevada taxa de juros está a baixa confiança do consumidor. Segundo Kalume Neto, o cliente não quer assumir uma dívida tão grande, como um financiamento, por um longo tempo. Isso porque o brasileiro tem receio em perder o emprego, por exemplo, e não conseguir terminar de quitar as parcelas de pagamento do veículo.
Taxa de juros não deve cair tão cedo
O executivo da Jato Dynamics acredita que a taxa de juros básicos pode cair de forma significativa em médio prazo. Porém, para os próximos meses, a taxa deve se manter estável ou ter uma leve redução, mas que não deverá movimentar tanto a economia. “A inflação ainda não está tão controlada. Não dá para baixar a Selic em um nível satisfatório”, diz.
De acordo com Kalume Neto, é provável que a Anfavea e a Fenabrave, entidade que representa os concessionários, precisem reduzir a projeção de crescimento para 2023 em breve.
Aos poucos, os antigos carros populares vão saindo de linha, como é o caso do VW Gol
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Carros populares morreram?
Não é de hoje que os carros, antes conhecidos como populares, estão com preços nas alturas. Segundo pesquisa feita pela consultoria automotiva Jato Dynamics, o valor médio de automóveis e comerciais leves zero km no Brasil chegou a exatos R$ 130.861 em 2022, ou seja, crescimento de 16,9% de 2021 para 2022. No ano retrasado, o preço médio de automóveis e comerciais leves foi de R$ 111.938 (ou R$ 18.923 a menos).
Se olharmos um pouco mais para trás, o aumento é ainda mais vertiginoso. Para ter uma ideia, o preço médio do carro novo no Brasil em 2017 era de R$ 70.877. Isso significa que, em cinco anos, os veículos ficaram, cerca de R$ 60 mil mais caros. Isso representa uma valorização de 85%.
Além disso, há uma tendência da indústria em investir em veículos mais sofisticados e com maior valor agregado. Ou seja, mais seguros, tecnológicos, conectados e que possam trazer um lucro mais substancial para as fabricantes, já que também demandam investimentos mais pesados. Nessa nova fase, a rentabilidade será mais importante que o volume de produção. Portanto, o carro de entrada como conhecíamos – barato e pouco equipado – tende a acabar.
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