Donos de veículos carburados e antigos precisam redobrar os cuidados para evitar danos ao motor e ao sistema de alimentação O Brasil está prestes a adotar uma nova etapa na evolução de seus combustíveis: a introdução da gasolina E30, com 30% de etanol anidro em sua composição. A mudança segue uma tendência global de redução de emissões e aproveitamento de fontes renováveis, como a cana-de-açúcar, mas levanta um alerta para proprietários de veículos mais antigos.
Segundo o especialista Clayton Zabeu, professor e pesquisador na área de Propulsão Automotiva no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), “a nova gasolina pode conter até 35% de etanol sem comprometer os motores modernos, mas veículos antigos, principalmente os carburados, precisarão de atenção especial”.
Enquanto motores atuais contam com sistemas de injeção e gerenciamento eletrônico capazes de lidar com variações no combustível, clássicos dos anos 1970, 1980 e de períodos ainda mais longínquos podem sofrer efeitos indesejados.
Como mais etanol afeta os motores antigos?
De acordo com Vinicius Losacco, preparador e proprietário da Losacco Oficina Mecânica, os impactos são múltiplos. “Os motores vão sofrer com desempenho e consumo, principalmente pela octanagem menor do etanol. De maneira geral, o motor vai ser prejudicado e menos seguro especialmente nas ultrapassagens”, explica.
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Renato Durães/Autoesporte
“O consumo volumétrico de etanol sempre será maior do que o do consumo volumétrico de gasolina pois o etanol apresenta uma densidade energética menor do que o da gasolina. Um litro de etanol conta com menos de 30% de energia se comparado com um litro de gasolina, em média”, complementa Zabeu, explicando sobre a menor octanagem do etanol.
O etanol, além de possuir características de combustão diferentes da gasolina pura, carrega naturalmente uma quantidade maior de água e solventes. Isso aumenta o risco de corrosão em componentes metálicos — como tanques de combustível, dutos, válvulas e, principalmente, carburadores, que ficam constantemente em contato com o combustível. A instabilidade da marcha lenta, partidas mais difíceis a frio e falhas de aceleração também tendem a se tornar mais comuns.
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Os principais componentes afetados:
Carburadores: risco de corrosão interna e instabilidade de funcionamento;
Mangueiras e vedadores: o contato prolongado com etanol pode ressecar e rachar os componentes de borracha;
Tanques metálicos: sujeitos a ferrugem interna pela absorção de água;
Sistema de exaustão: aumento da presença de água depositada nos canos de escapamento.
Há alternativas para reduzir os riscos?
Sim. A primeira recomendação é o uso de gasolinas premium, como Shell V-Power Racing e Petrobras Podium. Elas têm formulações que incluem menor teor de etanol – sempre anidro, ou seja, sem água – e aditivos que ajudam a proteger o sistema de alimentação.
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“As gasolinas especiais ajudariam muito, já as aditivadas comuns não”, reforça Losacco. É importante não confundir gasolina premium, que tem especificações mais rigorosas, com gasolina aditivada comum, que apenas recebe detergentes e dispersantes para limpeza do motor.
Nos motores carburados, também é possível ajustar a carburação para uma mistura mais rica, o que compensa parcialmente a presença maior de etanol. Além disso, substituir giclês e fazer uma boa regulagem do motor são formas de minimizar os efeitos negativos. Já em carros com injeção eletrônica antiga, a adaptação é mais complexa e pode exigir mudanças em bicos injetores ou reprogramação da central.
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Outra opção interessante para quem possui veículos clássicos muito antigos é a niquelação do carburador. Trata-se de um processo de galvanoplastia que deposita uma fina camada de níquel no interior e exterior do carburador, criando uma barreira protetora contra a corrosão provocada pela água e solventes do combustível.
“Os carburadores fabricados após o advento do álcool no Brasil já têm proteção de fábrica. Nos antigos, a niquelação é uma ótima saída”, explica Losacco.
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Divulgação
Manutenção mais frequente será indispensável
Por fim, independentemente de todas as adaptações, quem mantém um carro clássico precisará redobrar a manutenção preventiva. Verificações frequentes de mangueiras, juntas, vedações e filtros de combustível devem entrar no calendário do proprietário. Detectar e corrigir pequenos vazamentos ou sinais de ferrugem logo no início pode evitar prejuízos bem maiores no futuro.
Como proteger seu carro antigo da gasolina E30
Use gasolina premium
Combustíveis como Shell V-Power Racing ou Petrobras Podium têm formulações especiais, com menor teor de etanol e aditivos que protegem o sistema de alimentação contra corrosão e instabilidade.
Ajuste a carburação
Reconfigurar a carburação é essencial para lidar com a queima de um combustível que contém mais etanol. A mistura mais rica ajuda a preservar o desempenho e reduzir falhas.
Utilize aditivos anticorrosivos
Existem no mercado aditivos específicos para proteger sistemas de combustível contra a ação da água e do etanol. Eles podem ser acrescentados periodicamente no tanque.
Invista na niquelação
A aplicação de uma camada de níquel no carburador impede a corrosão precoce e aumenta a durabilidade do componente, especialmente importante para clássicos restaurados.
Reforce a manutenção preventiva
Filtros de combustível devem ser trocados com mais frequência, e inspeções visuais em mangueiras, tanques e carburadores devem ser feitas regularmente para evitar problemas maiores.
Fique atento à marcha lenta e ao consumo
Oscilações na marcha lenta, aumento no consumo e dificuldade em partidas a frio são sinais de que ajustes ou manutenções são necessários.
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