Veículos usados e modelos históricos ganham novas oportunidades em um dos maiores complexos de restauração do mundo A Jaguar Land Rover tem uma fábrica de carros clássicos no sentido mais literal. O plano de construir este pavilhão em Coventry, no Reino Unido, surgiu logo após o fim da produção do antigo Defender em 2016. A ideia é enaltecer a herança e os valores das marcas com a preservação de suas histórias.
O projeto foi iniciado dois anos depois, em 2018, com a inauguração do programa JLR Classics. Proprietários de modelos antigos poderiam acionar a marca e pedir uma restauração completa, mantendo os padrões originais de quando foram produzidos.
Processo de restauração em Coventry é artesanal
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Fábrica artesanal
A sede tem um grande complexo para montagem e restauração de carros antigos, com mais de 50 bases de trabalho. É praticamente uma fábrica com processos artesanais. Nesta visita, fomos guiados por Michael Bishop, responsável pelo setor de vendas da JLR Classics, e David Foster, chefe de produto da Jaguar Land Rover.
Michael Bishop, à esquerda, também é responsável pelo acervo de carros clássicos da marca
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É na oficina de Coventry que o Defender Classic Works vem ao mundo. O local tem cheiro de borracha, gasolina e tinta fresca. Veículos de diversas épocas se cruzam nos corredores enquanto aguardam o momento de serem restaurados. Afinal, a Jaguar é uma marca centenária e a Land Rover caminha para completar 80 anos.
Mike Bishop, como prefere ser chamado, explicou que o resgate ao passado pode ser uma artimanha das marcas europeias contra a inevitável invasão chinesa.
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Banco de dados gigante
Para enriquecer os detalhes técnicos e preservar as características originais dos veículos, a marca britânica criou um banco de dados com mais de 1,2 milhão de registros. Assim, é possível restaurar carros de 1950 com a mesma precisão de 70 anos atrás.
Pai e filho trabalham na restauração de um Land Rover Series 1 encontrado na Finlândia
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Para exemplificar, a imagem acima mostra a restauração do chassi de um Defender Series 1, produzido em 1954. O carro foi adquirido pela Jaguar Land Rover na Finlândia e será enviado a um cliente do Oriente Médio quando estiver pronto. Um fato curioso é que pai e filho são responsáveis por todo o processo deste modelo em especial. Afinal, quando legítimo, o amor por carros atravessa gerações.
Onde nasce o Defender Classic Works V8
Defender Classic Works que Autoesporte dirigiu no Reino Unido foi restaurado em Coventry
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O Defender Classic Works é concebido de um jeito curioso. Primeiro, a Land Rover vai ao mercado de usados para garimpar unidades em bom estado feitas entre 2012 e 2016. Encontrá-las não é uma tarefa complicada, pois o jipão se tornou um dos carros mais vendidos da marca quando o fim da produção foi especulado no Reino Unido.
Questionei David Foster sobre a abordagem aos clientes antes de adquirir um Defender usado. Se souberem que se trata da Land Rover, vão elevar o preço, certo? Para minha surpresa, nem sempre. “Muitos proprietários curtem a ideia de vendê-los para nós. Se sentem honrados em contribuir com o projeto”, comemorou.
Edição especial Islay do Land Rover Defender é limitada a 30 unidades
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Com o Defender em mãos, inicia-se o processo de restauração. Primeiro, o veículo é levado ao complexo de Coventry para ser desmontado. Cada peça é meticulosamente analisada pela equipe de engenharia — e o que precisa ser substituído vem do acervo residual da própria montagem do Defender antigo.
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Um fato é garantido: o chassi é substituído em todos os casos, mesmo quando o estado de conservação é bom. Essa é a única parte estrutural do antigo Defender produzida na Inglaterra até hoje, ainda que em escala reduzida. Junto deste chassi vem uma nova numeração de registro, que é licenciada nos órgãos de trânsito do Reino Unido. Se não fosse a própria fabricante cuidando deste processo, com todos os documentos e comprovações, seria adulteração.
Motor V8 é o coração do novo Land Rover Defender
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Novo, mas com documento antigo
Outro componente totalmente novo é o motor V8 5.0 a gasolina, que desenvolve 405 cv de potência e 51 kgfm de torque, sempre com a transmissão automática de oito velocidades. Vale destacar que o câmbio é o mesmo que equipa a atual geração do Defender.
Apesar de chassi e motor serem novos, o ano da fabricação original da unidade é preservado no documento. Por este motivo, o Defender Classic Works não pode ser vendido no Brasil. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) só autoriza a importação de carros usados com 30 anos ou mais de fabricação. O odômetro também é zerado, mas a Land Rover mantém os arquivos originais de todos os carros e pode passar informações sobre seu passado aos novos donos.
Instalação das molas da suspensão do Defender Classic orks
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Quanto à carroceria, praticamente tudo é reaproveitado. Existem casos em que uma unidade se torna doadora de componentes a outras. Dessa forma, dois carros podem acabar se tornando um nas entranhas da oficina.
O trabalho de funilaria é o mesmo de quando o jipe era produzido oficialmente, mas a marca disponibilizou novas opções de cores. Ao todo, são 50 tonalidades. Julgando que os clientes também podem escolher a cor do teto, é difícil de imaginar que um Defender deixará o complexo de Coventry exatamente igual ao outro.
Nada da tapeçaria antiga do modelo é aproveitado
Divulgação
Na parte eletrônica, o cabeamento é revisado e pode ser substituído se a marca julgar necessário. Toda a parte da tapeçaria é feita do zero, com a possibilidade de combinar elementos coloridos e grande variedade de materiais.
Bespoke, V8 e Islay
Da esquerda para a direita: Bespoke, V8 e Islay
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Três edições do Defender clássico são produzidas em Coventry: as versões V8, sem pacote de customização, custam 190 mil libras esterlinas (R$ 1,3 milhão); o pacote Bespoke, que adiciona itens como grade, faróis de teto e pintura especial, pode chegar a 200 mil libras (R$ 1,4 milhão).
A edição Islay, limitada a 30 unidades, custa 245 mil libras (R$ 1,7 milhão) e ainda não foi totalmente vendida. Já o modelo Trophy, cujo as 25 unidades produzidas já foram enviadas aos novos donos, custava 225 mil libras (R$ 1,6 milhão).
Início da montagem do chassi de um Land Rover Defender
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Perguntei aos especialistas se existe o plano de fazer algo parecido com os carros da Jaguar. “É um caso mais complexo. Estamos avaliando”, confessou Michael Bishop, sem demonstrar muita confiança. As propostas diferentes tornam os processos mais difíceis para os fãs do felino.
Podemos dizer que a Land Rover deu uma continuidade digna ao Defender. O jipe é um símbolo da Inglaterra, junto do Palácio de Buckingham, do Big Ben e das cabines telefônicas de Londres. Ao fim da visita, percebi que o modelo customizado pela Classic Works é um carro “feito por fãs para fãs”, com todo o carinho que merece. Enquanto existirem boas histórias a serem contadas, ele será lembrado.
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