Formação da holding entre companhias japonesas passa pelo crivo da montadora francesa Em meados de dezembro alguns rumores começaram a pipocar na imprensa internacional sobre um possível acordo entre Nissan e Honda. Dias depois fui consultado sobre o tema aqui no Brasil e considerei improvável tal fusão em função da necessidade de alinhamento com os franceses da Renault e da diferença cultural entre a gestão das empresas.
Entenda a situação atual. A Nissan tem aliança com a Renault, dona de cerca de um terço de suas ações. A empresa japonesa, por sua vez, é a maior acionista da Mitsubishi, que também faz parte do acordo.
Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan e ator de uma fuga provável apenas nos melhores filmes de ficção, concedeu entrevista acerca do tema e disse que o potencial acordo entre sua antiga empresa e a Honda indicaria que a primeira estaria em “modo pânico”. O executivo fez ainda um comentário bem assertivo indicando que as duas fabricantes têm portfólios semelhantes e atuam nos mesmos mercados.
Nissan tem menos de 2 anos de sobrevivência, afirma executivo da empresa
Aparentemente, essa entrevista mexeu com os envolvidos… Em 23 de dezembro, uma coletiva reuniu os líderes globais de Honda (Toshihiro Mibe), Nissan (Makoto Uchida) e Mitsubishi (Takao Kato). O evento apontou para o início das negociações de fusão entre as companhias – que devem ser concluídas em junho de 2025, com a abertura do capital da holding em agosto de 2026.
Honda e Nissan ainda têm obstáculos a ultrapassar para concretizar a formação da holding
Divulgação
Uchida foi protocolar e disse que a união irá “combinar seus pontos fortes e reduzir seus pontos fracos”. Mibe, por sua vez, comentou que o processo ocorrerá para combater a ascensão da indústria chinesa, mas que se dará no caso de a Nissan superar os maus resultados observados no último balanço.
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Por fim, Kato afirmou que a Mitsubishi definirá seu futuro até o final de Janeiro de 2025. Eu, particularmente, creio que a marca irá para onde a Nissan caminhar.
Fusão de Honda, Nissan e Mitsubishi: o que já sabemos
A matriz da Renault não tardou e no mesmo dia publicou, de forma simplista, a seguinte nota:
“O Renault Group reconhece os anúncios feitos hoje pela Nissan e Honda, que ainda estão numa fase inicial. Como principal acionista da Nissan, o Renault Group considerará todas as opções com base no melhor interesse do grupo e de seus stakeholders. O Renault Group continua a executar sua estratégia e a implementar projetos que criam valor para o grupo, incluindo projetos já lançados no âmbito da aliança.”
Se utilizarmos um pouco da semântica do mundo dos negócios, o que isso pode significar? Problemas, claro. Explicamos, com alguns recortes extraídos do comunicado emitido pela Renault:
“ainda estão numa fase inicial”: nada foi decidido, é apenas um acordo de intenções;
“como principal acionista da Nissan”: indica que a Renault irá exercer os seus únicos interesses;
“considerará todas as opções”: considerará desde a cisão até a manutenção do negócio como está;
“no melhor interesse do Grupo e de seus stakeholders”: o que valerá é o que a Renault e seus investidores definirem;
“continua a executar sua estratégia”: mais uma vez, não importa o que a Nissan decida, a Renault continuará a seguir o que para ela fizer mais sentido;
“projetos já lançados no âmbito da aliança”: um lembrete para a Nissan de que a aliança vem em primeiro lugar e que, em breve, serão lançados modelos elétricos da japonesa no mercado europeu com tecnologia Renault – o que poderá causar problemas para a companhia nipônica.
Muita energia ainda será consumida com este assunto. Vamos aguardar…
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