Algumas unidades do compacto foram parar na terra do Tio Sam — e acabaram sendo elogiadas pela imprensa local A Fiat nunca foi uma marca forte nos Estados Unidos. Uma das razões é sua própria linha de produtos, de características essencialmente europeias e, portanto, pouco interessantes aos olhos dos consumidores norte-americanos, fãs do estilo “quanto maior e mais potente, melhor”.
Para ter uma ideia, a Fiat ficou fora dos EUA por quase 30 anos, de meados da década de 1980 até 2011, quando voltou, já como sócia da Chrysler, para vender por lá o 500, incluindo sua versão Abarth, e depois o elétrico 500e. Hoje, porém, só comercializa o 500X, uma espécie de crossover do compacto.
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Isso, entretanto, não impediu a Fiat de — veja só — mandar para os EUA algumas unidades do Palio made in Brazil, em pleno ano de 1996. A ideia era apresentar o carro, então recém-lançado, a jornalistas norte-americanos, ainda que não houvesse a mínima intenção de vendê-lo por lá.
Palio na capa da revista americana Automotive Industries de junho de 1996; e Primeira geração do Palio, em 1996
Divulgação/Acervo MIAU
Mas, então, por que ter esse trabalho todo? Simples: desde o projeto, conhecido internamente como 178, o Palio nasceu para ser um carro mundial. Ele seria fabricado em 11 países (Brasil, Argélia, Egito, Marrocos, África do Sul, Venezuela, Argentina, China, Índia, Polônia e Turquia) e vendido em dezenas de mercados emergentes, da América do Sul à Ásia, passando pela África e pelo Leste Europeu, e a projeção era produzir quase 1 milhão de unidades por ano. Então a Fiat pensou o seguinte: se alguns jornalistas norte-americanos elogiassem o Palio, este seria um ótimo argumento de vendas para quando ele fosse lançado em diversos países. Valia a pena tentar.
E assim foi feito. Doze jornalistas locais, inclusive repórteres de publicações mundialmente conhecidas, como a Car and Driver, conheceram o Palio nacional (o Brasil foi o primeiro país a produzir o modelo), nas versões 16V e EL. O próprio presidente da Fiat do Brasil na época, Giovanni Razelli, foi para os EUA para fazer a apresentação do carro.
O test-drive foi realizado dentro das instalações de um centro de pesquisa e desenvolvimento que a Fiat mantinha em Farmington Hills, perto de Detroit.
Matéria sobre o Palio na revista inglesa Car Magazine de julho de 1996
Divulgação/Acervo MIAU
E a estratégia acabou dando certo: a maioria das revistas elogiou o Palio fabricado no Brasil, dando destaque especialmente para o design e o acabamento interno. Uma das publicações, a Automotive Industries, chegou a colocar o carro na capa da sua edição de junho de 1996, com a manchete Veni, Vidi, Vici (Vim, Vi e Venci, em latim). Foi um feito e tanto, considerando principalmente que a Fiat nem mesmo vendia carros naquele país na época.
Paralelamente, a montadora ainda fez outra jogada, que seria uma espécie de carta na manga: convidou um jornalista da revista inglesa Car Magazine para o lançamento do carro no Brasil, em Ouro Preto, Minas Gerais. A lógica era a mesma: o Palio não seria vendido na Inglaterra — aliás, nem mesmo na Itália —, onde o Punto já atendia bem ao segmento de entrada, mas, de novo, valia a pena tentar.
Resultado: a edição de julho de 1996, que pode ser encontrada no acervo do Museu da Imprensa Automotiva, o Miau, trouxe uma matéria de quatro páginas com uma manchete que pode ser traduzida como Por que Este Será o Carro Mais Vendido do Mundo (… e Por que Você Não Poderá Comprá-lo). Era uma referência tanto à projeção de 1 milhão de unidades fabricadas por ano quanto à oferta do Palio apenas em mercados em desenvolvimento.
Apesar desses dois legítimos golaços da área de imprensa da Fiat do Brasil, a carreira internacional do Palio acabou sendo infinitamente menor do que se esperava. Sabe por quê? Bem, essa é outra história…
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