Modelo da Chevrolet ganhou do Volkswagen em todos os testes; veja como foi Os carros de série com apelo esportivo sempre foram cobiçados em nosso mercado por representarem, além de um desempenho diferenciado, o topo da linha a que cada um pertence. Por isso a Volkswagen, pioneira na utilização da injeção eletrônica de combustível no Brasil, criou o Gol GTi com motor de 2 litros.
A GM, para 1992, também de olho nessa faixa de mercado, que mesmo sem produção muito grande tem um público fiel, resolveu partir para a disputa palmo a palmo com o Gol GTi, equipando a versão esportiva do Kadett com injeção eletrônica.
Kadett GSi tinha a tampa do porta-malas mais alta e suspensão traseira regulável
Acervo MIAU
Apesar do Kadett GSi ser mais moderno, os dois agora são reais concorrentes, principalmente na parte mecânica. Ambos utilizam motor de 2 litros, injeção eletrônica multiponto (a mesma Bosch LE Jetronic) e até a mesma arquitetura de suspensão, o que levou Autoesporte a realizar este teste comparativo.
Externamente os dois se diferenciam dos carros que derivam pelos apêndices aerodinâmicos: saias laterais, faróis de longo alcance (Gol GTi), de neblina, spoiler dianteiro (Kadett GSi), aerofólios e rodas em liga leve de desenho exclusivo. Em estilo, porém, o Kadett GSi é bem mais atual e tem um Cx (coeficiente de forma aerodinâmica) muito melhor. O GTi, apesar da reformulação que recebeu, mantém um estilo antigo e está precisando de uma modernização como a que foi feita no Santana.
Chama o VAR? GSi bateu o rival em simplesmente todos os testes realizados, até em consumo
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Internamente ambos dispõem de ar condicionado, bancos Recaro com regulagem de altura para o motorista, luzes de leitura e ótimo sistema de som. Mas o Kadett mais uma vez demonstra sua juventude: espaço interno maior, painel digital, computador de bordo, check-control e teto solar. Para o Gol, a vantagem do volante e alavanca de câmbio revestidos em couro, que melhoram a pega e são mais agradáveis ao tato.
A posição de dirigir destaca-se no Kadett, que conta com volante regulável em altura e alavanca de mudanças que fica em um ponto que não deixa o cotovelo do motorista bater na lateral interna do banco. Dirigindo o Kadett, porém, fica um pouco difícil visualizar as informações do painel digital, o que não ocorre com o do Gol, do tipo analógico. Como tendência mundial, até os japoneses voltaram para os instrumentos com ponteiros, principalmente nos esportivos.
Única vantagem do GTi ante o GSi era no preço, cerca de 20% menor
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O Kadett também se sobressai pelo maior conforto ao rodar. É o resultado do pacote de eliminação de asperezas que foi introduzido no GSi: buchas de suspensão maiores, molas dianteiras com assento de encosto na carroceria, amortecedores pressurizados e pneus série 65. O resultado em conforto foi positivo, mas o carro perdeu um pouco de suas características esportivas.
Nesse aspecto, o GTi é superior. Apesar da maior dureza da suspensão, ela absorve bem as irregularidades, mantém um bom nível de conforto, não transmite ruídos ao interior, dá uma sensação maior de robustez do conjunto e permite um comportamento mais definido quando usado esportivamente. O único ponto negativo do GTi fica por conta do excessivo ruído do motor em altas rotações.
Painel do VW era estilão raiz, com destaque para os grafismos em vermelho
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Esta deficiência pode ocorrer por prováveis vibrações originadas pelo uso de bielas mais curtas do que as utilizadas no mesmo motor na Alemanha.
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Como ambos têm o mesmo tipo de suspensão (McPherson na frente e rodas semi-independentes atrás ligadas por um eixo de torção), distribuição de pesos e tração dianteira, se equivalem em comportamento. Tendem a sair de frente em curvas de baixa, são neutros em curvas de alta e a traseira pode ser provocada tirando-se o pé do acelerador.
O Chevrolet tinha painel digital e outros requintes como computador de bordo
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A diferença maior está na direção, servo assistida no Kadett com a dureza ideal para a necessária sensibilidade em altas velocidades e para facilitar as manobras de estacionamento, sendo a do Gol bem precisa andando, mas muito pesada nas manobras lentas. O Kadett torna-se mais confortável de ser dirigido, principalmente na cidade.
Quanto à parte mecânica, que no conceito geral é igual, a única diferença é a do posicionamento do motor e câmbio: longitudinal no Gol e transversal no Kadett. Isso proporciona engates de câmbio mais rápidos e precisos no Gol, enquanto os do Kadett, apesar de bons, têm curso longo da alavanca de mudanças e certa imprecisão quando comparados aos do carro da VW.
GSi, com motor na transversal, tinha 9 cv a mais que o GTi, 121 contra 112
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Outra diferença surge na potência que os motores desenvolvem, apesar da mesma cilindrada. Com a necessidade de uso de catalisador para se enquadrar nas novas normas antipoluição, o motor do Gol GTi teve uma pequena perda de potência.
Assim, dos antigos 114 cv agora são 112 cv a 5.600 rpm. O Kadett GSi, por causa do projeto mais moderno de seu motor, não precisa usar o catalisador e a potência passou dos 110 cv do GS a álcool e 99 cv para 121 cv (gasolina).
Motor 2.0 do VW, em posição longitudinal, perdeu 2 cavalos com a adoção de catalisador
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E esse é o motivo principal porque, apesar de ter um peso ligeiramente superior e até relações finais de marchas, por causa dos pneus série 65, um pouco mais longas, o Kadett mostrou desempenho superior.
Assim, de 0 a 100 km/h, por exemplo, gasta 9,75 s contra 10,28 do Gol, que ainda consegue esse bom resultado em função de sua primeira marcha curta. Na velocidade máxima, também auxiliado pela melhor aerodinâmica, o GSi chegou a uma média de 191,735 km/h (com melhor passagem a 193,650), o que o transforma em um dos automóveis de série mais rápidos de nosso mercado, enquanto o Gol chegou a 183,614 km/h na média e 185,608 na melhor passagem.
Bancos Recaro ajudaram a fazer a lenda do GTi permanecer em alta até hoje
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Esse desempenho e também as características esportivas sugerem um consumo alto nos dois carros. Mas a surpresa é que isso não ocorre se forem dirigidos normalmente. Em nossos circuitos padrão de consumo, o GSi conseguiu fazer 10,40 km/l e o GTi 10,31 na cidade. Na estrada, mantendo as velocidades máximas permitidas (80 e 100 km/h), o Kadett obteve ótimos 15,30 km/l e o Gol 14,68, valores que possibilitam boas autonomias, apesar de ambos terem tanques com apenas 47 litros.
Os freios param os carros em espaços normais, sem desvios de trajetória, mas deveriam receber o ABS (antibloqueio) para garantir uma segurança maior, principalmente em pisos escorregadios. Tanto o GTi como o GSi apresentam no compartimento do motor fios pendurados de qualquer jeito, e falta, em ambos, cintos de segurança de três pontos nos bancos traseiros, um item presente até nos jipes Niva, da Lada.
Interior do GSi tinha a mesma pegada do rival, mas acerto era mais para conforto do que esportividade
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Apesar de alguns senões, são carros que agradam, principalmente pelo bom desempenho e acabamento. Neste comparativo a vantagem ficou clara para o Kadett, o que demonstra que a Volkswagen precisa fazer um retrabalho no Gol para enfrentar melhor o concorrente. Isso apesar da diferença de preço ser grande, justificada pelo melhor desempenho e uso de equipamentos de série no Kadett GSi, como volante regulável, direção servo assistida, painel digital, check-control, computador de bordo e teto solar, que não são disponíveis nem como opcionais no Gol.
Texto publicado orginalmente em Autoesporte 319, de dezembro de 1991
Resultado dos testes
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