Centro de Reciclagem e Desmontagem da marca na Alemanha já é capaz de recuperar até 95% dos materiais de um veículo Mais um dia comum transcorre em um pequeno complexo da BMW no município de Unterschleissheim, a cerca de 10 km de Munique, onde fica a sede da empresa alemã. Contudo, os funcionários aqui não fabricam carros. Fazem, na verdade, o processo inverso: desmontam veículos para fazer a reciclagem ou o reuso de seus componentes, uma rotina que causa até estranhamento a quem vê, mas parece um bocado mais divertida que uma linha de montagem. Estamos no Centro de Reciclagem e Desmontagem da BMW.
Criado em 1994, inicialmente para promover um descarte mais sustentável de protótipos de automóveis e motocicletas da companhia, o Centro de Reciclagem e Desmontagem da BMW é pequeno para os padrões de uma fábrica, porém gigante se considerarmos um modelo de negócios que ainda engatinha ao redor do mundo. Na Europa, dificilmente há empresas especializadas no tema capazes de reciclar mais do que 500 veículos anualmente. Aqui, a capacidade anual é de 10 mil.
BMW X7 no centro reciclagem da marca em Munique (Alemanha)
Divulgação/BMW
E acredite: apesar de o processo de reciclagem automotiva ainda não ser tão difundido e demandar boa dose de esforço logístico, a montadora bávara afirma que já é possível reaproveitar até 95% dos materiais de um veículo que chega ao centro. Ali, há desde carros e motos de teste até modelos que têm registro de perda total em seguradoras, passando por aqueles que apresentaram algum defeito ou, simplesmente, um carro usado convencional que o dono resolveu trocar.
No centro, chamado RDZ na sigla em alemão, são permitidos apenas modelos de carro de luxo da própria BMW ou de suas marcas subsidiárias, como a Mini e a Rolls-Royce.
Quais partes de um carro é possível reciclar?
Na verdade, todas. O alumínio e o aço que compõem a carroceria, por exemplo, podem ser reaproveitados ad aeternum se bem separados. O mesmo vale para outros metais, alguns nobres, presentes em componentes como as fiações elétricas e sistemas de alimentação e escape. O mais difícil são os plásticos, que perdem qualidade no processo de recomposição, além dos fluidos extraídos do veículo antes de sua compactação.
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Detalhe interessante é que, caso um veículo esteja em bom estado de conservação, pode ter peças como bancos, motor ou câmbio extraídas e recuperadas não para reciclagem, mas sim para reuso. A própria BMW vende componentes do tipo a donos de usados da marca que querem comprar peças originais usadas em bom estado a um custo mais acessível. Após retiradas, tais partes são tabeladas em três níveis de qualidade: A, B e C. Os preços de cada uma, obviamente, variam conforme essa classificação.
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Vale observar que nenhum desses componentes de reuso pode ser usado na montagem de um veículo zero-quilômetro, inclusive por força da lei. No caso específico dos bancos, apenas 10% dos carros que passam pelo centro têm componentes desse tipo em condições de reutilização imediata. O que não serve para ser reaproveitado de modo direto vai para a reciclagem comum, um processo fascinante que culmina na desfragmentação de um carro ou moto em pequenos cubos de 2 cm cada! Confira o passo a passo:
Como funciona a reciclagem de um carro
Reciclagem de carro BMW – Retirada de componentes para reuso
Divulgação/BMW
Antes, é preciso dizer que nem todas as etapas do processo de reciclagem são executadas no centro da BMW. Por exemplo, as baterias de veículos híbridos ou elétricos são enviadas a uma empresa parceira, que é capaz de separar e recuperar até 90% dos metais presentes na composição. Os pneus também vão para recicladoras terceiras, assim como os fluidos.
No RDZ da marca bávara, a primeira etapa é justamente extrair os módulos de bateria dos carros eletrificados. Depois, esses veículos se juntam àqueles somente à combustão na fila e todos são encaminhados a uma espécie de linha de montagem reversa.
Reciclagem de carro BMW – Extração da bateria de um carro elétrico
Divulgação/BMW
No primeiro galpão, uma equipe conecta um controle eletrônico à entrada OBD2 dos carros, para disparar os airbags e os chamados sistemas pirotécnicos do carro, como os cintos com pré-tensionador. Isso evitará eventuais acidentes nas demais fases.
Reciclagem de carro BMW – Disparo de airbags e pré-tensionadores dos cintos
Divulgação/BMW
Os disparos são feitos manualmente por um controle remoto que parece ter vindo de um videogame da década de 1980. Apertar os botões e presenciar os disparos é divertido e até desestressante, mas demanda que se use fones de ouvido por conta do barulho. Na sequência, outra ala do centro drena os fluidos como óleo de freio e motor, além do combustível do tanque. Neste último caso, um funcionário usa uma furadeira integrada a uma mangueira vedada, para puxar o líquido sem que o combustível ou mesmo o seu cheiro vazem.
Reciclagem de carro BMW – Extração de fluidos
Divulgação/BMW
Depois, se existe a possibilidade de reuso de algumas partes, é feita a retirada manual de itens como catalisadores, baterias de 12V, trens de força e bancos. Só então os veículos vão para a parte mais impressionante de todas: em uma ala isolada, uma máquina com um braço articulado, que alterna entre três diferentes tipos de pinças rotativas hidráulicas, encarrega-se de arrancar a fórceps todo o trem de força do carro, depois o teto, os bancos que ali ficaram, o painel e, por fim, a fiação elétrica.
Reciclagem de carro BMW – Retirada de rodas, pneus e bancos reaproveitáveis
Divulgação/BMW
Esta parte merece uma descrição à parte. Com uma pinça mais fina, que parece um alicate, o operador da máquina extrai todos os chicotes integrados de uma vez, e os vai enrolando na pinça gigante como se fosse um garfo agrupando um fio de espaguete. É a cena mais curiosa de todo o processo. Por fim, o que resta da carroceria é escrapeada e vira um cubo que não chega a ter um quarto das dimensões originais do veículo.
Reciclagem de carro BMW – Abertura do teto para remoção de itens internos
Divulgação/BMW
Esses restos são, então, encaminhados a outra empresa, que finaliza a reciclagem em mais duas fases: primeiro, desfragmenta os “restos mortais” de cada veículo em pequenos cubos de 2×2 cm cada. A partir disso, faz a separação química dos materiais de cada cubinho, extraindo dali metais ou plásticos para serem usados na formação de novas peças.
Reciclagem de carro BMW – Extração de fios elétricos
Divulgação/BMW
Quanto mais precisa e bem feita esta última etapa, mais puro dela sairão materiais como alumínio e aço, podendo ser reaproveitados sem qualquer tipo de perda de propriedade. O mesmo não ocorre com o plástico, como já mencionamos, o que tem demandado intensas pesquisas científicas a fim e resolver este problema e melhorar a qualidade dos plásticos oriundos de reciclagem.
Reciclagem de carro BMW – Carroceria escrepeada
Divulgação/BMW
Ao alcançar o índice de 95% de reciclabilidade, o Centro de Reciclagem da BMW se antecipa a uma legislação da União Europeia que prevê que, até 2029, veículos em desuso no bloco terão que ter pelo menos 85% de suas partes recicladas pela indústria. Este índice tem que chegar a 95% quando se acrescenta o reuso na equação.
Reciclagem de carro BMW – metais de bateria reciclados
Divulgação/BMW
É claro que o processo de reciclagem de um automóvel ainda é demorado, muito manual e um tanto árduo, levando dias e passando por várias empresas diferentes até ser concluído. Mas, pelo menos, dá uma nova luz de esperança a quem quer viver em um mundo mais saudável e sustentável. E soa um sinal de alerta a qualquer dono de ferro-velho.
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