Ford era novidade, mas o Chevrolet ainda tinha fôlego para brigar de igual para igual Conteúdo publicado originalmente na Autoesporte 332, de janeiro de 1993
O Ford Escort (já em sua terceira geração) foi lançado na Europa em setembro de 1980 e no Brasil em julho de 1983. Seu concorrente direto, o Chevrolet (Opel) Kadett, em agosto de 1984 na Europa e em abril de 1989 aqui. A quarta geração do Escort apareceu na Europa em agosto de 1990, e o substituto do Kadett, o Astra, em julho de 1991.
A Ford, aqui divisão da Autolatina, lançou em janeiro um novo Escort, com a “cara” do europeu de 1990 e a estrutura do que se poderia chamar de quarta geração melhorada. Sua mecânica é bastante diferente da europeia (e mais ainda do Escort americano), já que utiliza componentes Volkswagen.
Os dois seguem a tendência de traseira alta, mas o Kadett vai mais longe neste item
Marcio Sallowicz/Autoesporte/Acervo MIAU
Hoje em dia, a Ford oferece ao nosso mercado um carro de geração bem mais nova que a do Kadett – e a GM fica devendo o Astra para igualar as coisas. O Kadett, porém, não deve ser olhado com desprezo apenas porque é de uma geração anterior: trata-se de um carro ainda contemporâneo e leva a vantagem, para muitos compradores, de representar uma execução já bastante provada, além de possuir sistema de injeção eletrônica de combustível – inclusive o único existente para álcool.
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Parados lado a lado, frente a frente e traseira a traseira, suas gerações de design e características de estilo tornam-se evidentes. O Kadett, apesar de mais velho, tem design arrojado e até mesmo mais radical que, desde seu lançamento, o tornou objeto de apreciações extremadas, tipo amor/ódio; o Escort, arredondado e mais convencional, apesar de sua multiplicidade de “dobras”, não choca ninguém, sendo considerado muito bonito pela maioria daqueles que o viram.
O porta-malas do novo Escort cresceu em relação ao antigo e superou o do Kadett: 482 x 390 l
Marcio Sallowicz/Autoesporte/Acervo MIAU
Uma das características de design que definem um carro realmente moderno é a coincidência da base do para-brisa sobre o eixo dianteiro – isto é, o centro da base do para-brisa deve chegar o mais perto possível, ou até mesmo fazer uma intersecção com a linha imaginária do eixo dianteiro, formando a chamada “cabine avançada”. Nem o Escort e muito menos o Kadett chegam lá – mas o carro da Ford está bem mais contemporâneo nesse ponto, com uma frente mais curta e o para-brisa mais inclinado.
Outra prova da maior modernidade do Escort é a grade dianteira mínima: uma só lâmina de entrada de ar, suplementada pela abertura maior no para-choque dianteiro. Lateralmente o Escort ganha disparado devido, principalmente, à sua grande área envidraçada, que faz aparecer com mais força ainda o pior ponto de estilo do Kadett: a área triangular fechada, em plástico preto, colocada atrás do vidro lateral traseiro. Essa área significa um enorme ponto cego em manobras de tráfego e de estacionamento.
As derrapagens do Kadett são mais difíceis de corrigir que as de seu concorrente
Marcio Sallowicz/Autoesporte/Acervo MIAU
A traseira do Kadett é ainda mais alta que a do Escort, cuja vigia é um ponto menos inclinada. Os conjuntos ópticos se equivalem, mas a traseira do Escort é mais bonita, ajudada inclusive pela parte de trás do teto, rebaixado centralmente. O teto do Kadett, no entanto, é mais funcional: tem duas faixas de plástico com deslizadores para fixação de rack ou bagageiro. No Escort não há previsão para tal equipamento.
Internamente a primeira impressão é de vantagem do Escort. Do centro da base do para-brisa ao centro da base da vigia traseira o Escort tem 8 cm a mais que o Kadett. Mas a surpresa é o fato de o Kadett apresentar maior largura interna que o Escort: 5 cm à altura do encosto dos bancos dianteiros, vidro de janela a vidro de janela.
Em determinadas curvas no limite o Escort mostra tendência de escorregar de traseira
Marcio Sallowicz/Autoesporte/Acervo MIAU
O painel de instrumentos do Escort inclui à esquerda um desenho do perfil do carro, com luzes de advertência para várias funções. Já o painel do Kadett é mais simples de aparência, e substitui o perfil do carro por um tacômetro, localizado à direita – um instrumento extremamente útil que nos Escort só aparece nos modelos Ghia, XR3 e XR3 conversível.
Os comandos principais de ambos os carros são corretíssimos. Aqui, deve-se reclamar seriamente da posição da chave de ignição do Escort, virada para a frente do carro e exigindo posicionamento difícil e desconfortável da mão do operador. A mesma inversão ergonômica se encontra nas travas de portas.
Lado a lado nota-se uma nítida diferença de gerações entre os dois
Marcio Sallowicz/Autoesporte/Acervo MIAU
Posição de volante (o do Escort com raios em T; o do Kadett, menos confortável, em forma de A) é ótima nos dois casos, mas a do Kadett regulável em altura; os Escort L e GL não têm regulagem. A alavanca de mudanças está bem-posicionada em ambos os carros; pedaleira é boa tanto no carro da Ford como no da GM; nos dois, os bancos dianteiros são bons, sendo os do Escort mais amplos e com assentos mais longos.
O acesso ao banco traseiro é ruim tanto no GL quanto no SL/E, especialmente quando os bancos da frente são ocupados por pessoas altas. O problema do “laço” formado pelos cintos de segurança dianteiros se mantém, esperando a distração de um ocupante do compartimento traseiro para jogá-lo no chão. Uma grande vantagem do SL/E sobre o GL é o banco traseiro dividido 1/3 – 2/3; o do Escort é inteiriço e muito vertical. Nos dois carros faltam apoia-cabeças nas três posições do banco traseiro e cintos de três pontos pelo menos nas posições extremas.
No painel do Escort há um desenho do perfil do carro com luzes de advertência
Marcio Sallowicz/Autoesporte/Acervo MIAU
Os Kadett sempre foram carros pesados em relação a seus concorrentes. Agora, porém, com a tendência europeia de se exigir estruturas extremamente protetoras para os ocupantes, inclusive em colisões offset (metade da frente) e a 45 graus, os carros europeus estão seguindo os americanos em peso. A fortíssima estrutura do novo Escort o leva a ser 50 kg mais pesado que o próprio Kadett. Isso, é claro, traz reflexos em desempenho dinâmico e em consumo – apesar dos coeficientes aerodinâmicos baixos dos dois carros em questão.
O Kadett injetado foi sempre mais rápido em aceleração e mais veloz em máxima que o Escort, embora perdesse em retomada de velocidade nas marchas superiores (quarta e quinta). As diferenças são pequenas: de zero a cem o Kadett fez em 12,07 s, o Escort em 12,62 s; de zero a 400 metros foram 17,78 s para o Kadett, 18,04 s para o Escort; o quilômetro de arrancada registrou 33,78 s para o carro da GM e 33,95 s para o da Ford.
Painel do Kadett é simples mas tem tacômetro
Marcio Sallowicz/Autoesporte/Acervo MIAU
Nas retomadas o SL/E foi de 40 a 80 km/h em terceira marcha em 8,39 s, o GL em 8,52 s; em quarta e quinta marchas o GL deu o troco: de 60 a 100 km/h em 12,55 s contra 13,96 s, e de 80 a 120 km/h em quinta marcha em bem melhores 17,94 s contra 20,9 s do SL/E – um resultado direto da preocupação da engenharia da GM com o fator economia, levando à escolha de relações de marchas mais longas. A máxima do Kadett foi ligeiramente maior que a do Escort: 174,496 km/h contra 174,099 km/h, média de quatro passagens.
Peso é o grande inimigo da economia de combustível em ciclo urbano. Os 50 kg a mais do novo Escort em relação ao Kadett (o dobro disso em relação ao Escort anterior) fizeram com que ele não fosse além de 7,48 km com um litro de gasolina em nosso circuito padrão, utilizando o carburador eletrônico dos motores 1.8 da Autolatina.
Motor do Kadett é mais potente e tem injeção eletrônica
Marcio Sallowicz/Autoesporte/Acervo MIAU
O Kadett com injeção monoponto brilhou: 9,86 km/l. Em circuito rodoviário os fatores mais importantes são um baixo Cx (vidros fechados sempre) e marchas longas. O Kadett voltou a brilhar: 14,91 km/l contra os também muito bons 13,62 km/l do Escort GL.
O Escort tem cinco milímetros a mais de entreeixos do que o Kadett (virtualmente iguais, portanto); porém, 35 milímetros a mais de bitola dianteira e 50 milímetros a mais de bitola traseira. Parece pouco, mas faz uma enorme diferença no rodar: tendência bem menor de oscilar verticalmente. Os dois carros têm direção hidráulica opcional, mas as respostas do Escort são um pouco mais exatas, pois seu eixo traseiro parece seguir melhor as ações do dianteiro. No limite, porém, o Escort escorrega mais, embora também essa fuga seja mais fácil de corrigir que no rival. Os freios se equivalem em distâncias de frenagem e em esforço de pedal, mas o GL mantém melhor a trajetória, especialmente sobre buracos.
Motor 1.8 do Escort é originário da Volkswagen
Marcio Sallowicz/Autoesporte/Acervo MIAU
Em resumo, o Escort é um carro maior e mais bonito que sua versão anterior. Reúne condições de rapidamente alcançar e até superar em vendas o Kadett.
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