Desafio mental vai além das ruas invertidas e do volante ao lado direito; saiba os detalhes Dirigir na mão inglesa sempre foi uma curiosidade. Imaginava que demandaria um grande esforço mental, como reaprender a conduzir um carro do zero. Eis que tive a oportunidade de sanar as minhas dúvidas no lançamento do Land Rover Defender Classic Works, no Reino Unido.
Rodei por cerca de 150 km no interior da Inglaterra — mais especificamente entre as cidades de Chichester (onde está o famoso autódromo de Goodwood) e Coventry (uma das sedes da Jaguar Land Rover). Peguei trechos urbanos, rodoviários, grandes cidades, pequenos vilarejos e até fora de estrada. Uma aventura assustadora, de certa forma.
Após o desembarque em Londres, comecei a prestar atenção no trânsito. A intenção era condicionar o meu cérebro para a nova realidade: o volante é do lado direito e as orientações nas ruas são totalmente invertidas. Uma curiosidade é que várias ruas da capital britânica apontam para qual lado os turistas devem olhar antes de atravessar. Acidentes com estrangeiros são comuns.
Trânsito no Reino Unido
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Acostumado com o volante do lado “errado”
Dias depois, já em Chichester, estava pronto para dirigir o Defender. A primeira atividade foi no off-road, o que fez minha mente se acostumar com a ideia do volante do lado “errado”. Mesmo assim, precisei usar o máximo da capacidade dos meus miolos.
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Isso porque o carro aparenta ser maior do que realmente é quando se está dirigindo do lado direito — assim, manter o Defender na faixa já era um desafio por si só. Bastou dirigir um pouco para começar a “ciscar” as rodas do lado esquerdo do jipão nas guias. Por sorte, os grandes pneus de uso misto mal sentem o impacto.
Este que vos escreve, a bordo do Land Rover Defender Trophy
Nick Dimbleby/Autoesporte
Notei que o lado direito do carro deveria se tornar a minha nova referência de tamanho. Dessa forma, consegui evitar o contato do pneu com a guia na maior parte do tempo. O fato do Defender ter câmbio automático também ajudou a redobrar a atenção no que realmente importava (no caso, não me envolver em uma colisão).
Após lidar com o tamanho do Defender, passei a me concentrar em não entrar na contramão. As conversões à direita são as mais desafiadoras porque estamos condicionados a, nessas ocasiões, fazer a conversão beirando a calçada. Na mão inglesa, é preciso cruzar a faixa contrária antes.
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Normalmente, esperava um bom tempo antes de atravessar a rua, até ter a certeza de que nenhum outro carro se aproximava.
Chega a ser um clichê dizer que, com o passar do tempo, dirigir com o volante à direita se torna natural. Porém, é mais ou menos por aí. No segundo dia de test-drive, já não precisava do máximo de minhas sinapses para dirigir pela Inglaterra. Até senti segurança para fazer algumas ultrapassagens e ficar na faixa rápida em rodovias (ou seja, à direita).
Rodovia no Reino Unido
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Um dos carros da nossa comitiva tinha mão francesa, com o volante à esquerda, onde estamos acostumados. Neste caso, o desafio foi dirigir um veículo “normal” em uma rua invertida. Me saí melhor, pois o tamanho não era uma preocupação.
Dirigir na mão inglesa é um desafio que todos os motoristas brasileiros deveriam enfrentar pela curiosidade. É possível fazer isso não apenas pelo Reino Unido, mas também na África do Sul, Hong Kong, Austrália, Tailândia e Nova Zelândia. Aliás, sabe o que todos estes países têm em comum?
Por que existe a mão inglesa?
Para golpear um oponente com a mão direita, cavaleiros medievais ficavam ao lado esquerdo da via
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Os países que utilizam a chamada mão inglesa pertenciam, em sua maioria, ao Império Britânico. A exceção mais lembrada é o Japão, que não foi colônia da Inglaterra, mas tem o volante do lado direito até hoje. O motivo é a influência da parceria comercial entre as nações.
A história mais aceita é que a mão inglesa nasceu ainda na antiguidade. Assim, um cavaleiro poderia manusear sua espada com a mão direita para enfrentar um oponente que vem no sentido oposto. Ficou determinado, então, que todo tráfego de pedestres ou carruagens seria feito sempre pelo lado esquerdo. Já o sentido inverso, o que usamos no Brasil, ficou conhecido como mão francesa.
A regra avançou pela Idade Média e chegou à Era Moderna. Em 1804, surgiu o primeiro trem a vapor da história, produzido no País de Gales. Os britânicos mantiveram a coerência de que o sentido de condução dos trilhos seria pela esquerda.
Parceiros comerciais da Inglaterra, como o Japão, optaram por manter o volante na direita
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Países que receberam trens produzidos no Reino Unido também adotaram este sentido. Isso explica o fato da circulação no Japão ser pela esquerda. Inclusive, a Ásia é a região do mundo com o maior número de nações com este padrão de direcionamento de trânsito: ao todo, são 16. Na América do Sul, Guiana e Suriname também utilizam o padrão.
No Brasil, a mão francesa é usada desde a chegada dos primeiros automóveis. O Código Nacional de Trânsito (Contran) reconhece este padrão de circulação desde 1968. Como fabricantes americanas foram as primeiras a iniciar as operações por aqui, usamos o mesmo arranjo de trânsito dos Estados Unidos.
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