O designer gráfico Ricardo Fiorotto fez de tudo um pouco na Autoesporte, da edição da revista para iPad a homem-placa na Av. Paulista Ricardo Fiorotto é o que se pode chamar, usando uma expressão moderna, de profissional multitarefa. Ele misturou jornalismo com tecnologia, design, arte, marketing e fotografia, e usou um pouco de cada uma dessas áreas — e muita combinação delas — em sua passagem por Autoesporte, de 2010 a 2012, que ele mesmo define como “rápida, porém muito intensa”.
E põe intensa nisso. Além de ter sido responsável por lançar a edição de Autoesporte no iPad, ele literalmente se vestiu de Automaníaco, personagem que habitava a revista e as redes sociais da publicação, de rosto desconhecido, sempre coberto com um capacete branco. Isso entre outros trabalhos e realizações, que lhe renderam dois prêmios da Editora Globo.
O designer gráfico Ricardo Fiorotto fez de tudo um pouco na Autoesporte, e até ficou conhecido por ser o personagem Automaníaco que aparecia na revista e nas redes sociais
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Nesta entrevista, que compõe a série especial que retrata alguns personagens-chave que fizeram (ou ainda fazem) a história de Autoesporte ao longo de seus 60 anos, que se completam neste 2024, ele conta detalhes das aventuras vividas na redação da revista. Confira!
Autoesporte: Como começou sua carreira e como você foi parar, literalmente, nas páginas de Autoesporte?
Ricardo Fiorotto: Eu estudei tanto design gráfico quanto digital e, mais tarde, fiz pós-graduação em cinema, vídeo e fotografia. Consegui um estágio na revista Playboy, da Editora Abril, e meu primeiro emprego foi na Editora Globo, como designer da revista Crescer. Mas desde muito antes eu já gostava bastante de carros. Então, abriram uma vaga de designer na Autoesporte, eu me candidatei e fui para lá. Seis meses depois, fui promovido a diretor de arte — e acabei fazendo muita coisa, como criação de um novo projeto gráfico para a revista e para o site, produção de conteúdo, direção e edição de vídeos e ações de marketing, além de algumas viagens internacionais para lançamentos de carros. Fiz até reportagens.
AE: Vamos por partes: primeiro, como foi a história de criar uma versão da revista para iPad?
RF: Isso foi em 2010. Era uma coisa totalmente nova, que ninguém sabia como fazer direito ainda. Mas, como eu tinha conhecimento de design digital, acabamos conseguindo montar e, assim, fomos uma das primeiras revistas do Brasil a sair neste formato, inclusive a primeira do segmento automotivo. Foi muito bacana em vários aspectos: primeiro porque o lançamento aconteceu no Salão do Automóvel, teve bastante repercussão, e também porque a tecnologia que foi desenvolvida na Autoesporte acabou servindo de referência para outras revistas da Editora Globo. Era muita novidade. Eu me lembro até que, por causa disso, participei de um congresso nos Estados Unidos; quando percebi, estava dando dicas para diretores de arte de grandes revistas do mundo, como a National Geographic…
Autoesporte foi uma das pioneiras no iPad; versão digital não era apenas reprodução da edição impressa: havia diagramação própria e interatividade
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AE: Na época falava-se que esse seria o futuro das revistas…
RF: Exatamente. E era algo realmente incrível e surpreendente, parecia de fato isso. No caso de Autoesporte, a edição era muito interativa, não era só um PDF reproduzindo a edição em papel. Havia recursos bem bacanas que partiam da revista original. Por exemplo, ao clicar em cima de uma foto as portas do carro se abriam e se fechavam, ou fazendo um movimento de arrasto com o dedo na tela o carro girava 360 graus. Se fosse uma imagem do interior de um modelo, também dava para rodar a foto e ver todos os ângulos do carro por dentro. Ou podia rolar um vídeo mostrando detalhes… em algumas seções, como o editorial, ainda havia a opção de ouvir o autor lendo o próprio texto. Fora que a revista podia ser lida tanto na vertical, como é o padrão, como na horizontal, com uma diagramação própria, mostrando as duas páginas de uma vez. A aceitação foi muito boa, chegamos a ter 30 mil acessos por mês.
AE: Realmente era algo revolucionário, mas que acabou não indo em frente com o tempo, não só no caso de Autoesporte mas de todas as revistas, de todos os segmentos. Em sua opinião, por que isso aconteceu?
RF: Acredito que foi a soma de vários fatores. Um deles é que era muito caro e trabalhoso para fazer. No nosso caso, por exemplo, tínhamos que combinar tudo antes com o fotógrafo, planejar a seção de fotos de outra forma, passar a gravar coisas em vídeo… coisas a mais, em resumo, que não fazíamos antes. E havia mais um fechamento, ou seja, passávamos uma semana fechando a revista tradicional, trabalhando até de madrugada, e na sequência vinha mais um fechamento para a edição do iPad, com o mesmo tanto de trabalho, talvez até um pouco mais. Isso começou a ficar caro — e não havia receita a mais entrando para justificar todo esse trabalho adicional. Esse cenário se somou à queda de uso do iPad e dos tablets em geral, depois de passado o impacto inicial, daquela coisa da novidade. Ao mesmo tempo, começou a ganhar muita força a produção de vídeos, que passaram a ter maior visualização e impacto, além de uma fonte de receita própria, especialmente com a adoção das SmartTVs. Com tudo isso, esse formato de revista para iPad acabou ficando inviável, não se sustentava. Para você ter uma ideia, hoje os acessos aos sites em geral via tablet representam aproximadamente só de 1% a 2% do total. O tablet acabou se tornando uma coisa mais de nicho para jogos.
Entre pautas inusitadas, viagens internacionais e fotos com carros de luxo marcaram a passagem de Ricardo Fiorotto por Autoesporte
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AE: E o que mais você fez na Autoesporte em sua passagem por lá?
RF: Preciso explicar que trabalhar na Autoesporte representou para mim um encontro muito forte, juntou tudo o que eu gostava de fazer profissionalmente com um tema que eu adorava, os carros. Foi tudo muito rápido, mas muito intenso. Eu era novo, tinha 24 anos, não tinha filhos. Na época, a redação tinha bastante gente com esse mesmo perfil, eram pessoas muito especiais, com as quais mantenho contato até hoje. Todo mundo tinha vontade de fazer as coisas. Era um ambiente bem dinâmico, especial e criativo, que ganhou ainda mais força com as novidades tecnológicas que estavam despontando. Foi uma conjunção muito feliz, muita gente bacana fazendo coisas novas, todo mundo junto; então, qualquer coisa que a gente sugeria acabava dando certo. Muito também se deve ao fato de que tínhamos bastante liberdade, era algo que o Marcus [Vinícius Gasques, então editor-chefe da revista] nos dava. Em resumo, eu vivia para a revista, fazia de tudo um pouco, desde a concepção artística da capa até levar carro para seção de fotos, participar dos ensaios, usava até meu próprio carro para as matérias de teste e análise de algum acessório, como kits multimídia. Eu só saí da revista mesmo porque queria alavancar minha carreira, e também porque nasceu minha filha, a Clarice, então não dava mais para ficar trabalhando até tarde.
AE: A Clarice, inclusive, também saiu na Autoesporte, não?
RF: Pois é. Como eu disse, tudo o que a gente sugeria acabava dando certo, e tivemos a ideia de fazer uma reportagem mostrando o primeiro passeio de carro de um bebê, ou seja, saindo da maternidade. O Vadeco [Oswaldo Palermo, fotógrafo] fez as imagens, ficou muito legal. Depois ela ainda participou de outra reportagem, em que mostrávamos se era possível levar um bebê em um superesportivo — no caso, um Mercedes.
Clarice, filha de Fiorotto, também foi parar nas páginas de Autoesporte assim que saiu da maternidade, e até a bordo de um superesportivo
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AE: E a história do Automaníaco?
RF: Foi um personagem que criamos e refletia, de certa forma, a nossa própria personalidade, da redação, de ver carro em tudo. Esse personagem, cuja identidade não era revelada, usava um capacete branco com viseira escura e vestia macacão vermelho. O pessoal da redação se revezava, mas, na maioria das vezes, era eu que fazia o personagem. Foi só mais uma dessas loucuras que inventávamos. Outra coisa que fizemos foi imprimir capas gigantes de Autoesporte e “passear” com elas pela Av. Paulista todos os meses, para divulgar as novas edições.
AE: E das reportagens que você escreveu, alguma te marcou mais?
RF: Principalmente as que envolveram viagens internacionais, essas foram inesquecíveis. A primeira foi para o lançamento do Porsche Panamera Hybrid, na Áustria. Foi bacana porque eu fotografei, gravei vídeo e depois ainda escrevi o texto. Outra viagem que também me marcou foi para um evento da Jeep nos Estados Unidos. Ah, e teve ainda uma para Londres, para cobrir o lançamento de um Range Rover. Essa foi especial porque eles também fizeram várias loucuras, como colocar os jornalistas para entrar com o carro dentro de um avião cargueiro.
Durante seu tempo na Autoesporte, Ricardo Fiorotto viajou até a Áustria para, nan época, cobrir o lançamento do primeiro Porsche Panamera Hybrid
Divulgação
AE: Aconteceu alguma coisa inesperada ou curiosa durante a produção dessas reportagens e conteúdos?
RF: Algumas. Uma de que não me esqueço foi em Ilhabela. Levamos um Peugeot 3008 para lá e montamos um cenário que realmente estava muito bonito, visualmente impressionante, uma vista maravilhosa. Quando íamos começar a fazer as fotos, apareceu um casal de chineses que estava em viagem. Eles pediram para tirar umas fotografias usando o carro e o nosso cenário. Deixamos, e acabaram fazendo quase que um book de noivos. E nós lá, esperando…
AE: E você fez o que profissionalmente depois que saiu da Autoesporte?
RF: Eu continuei na Editora Globo por mais dois anos, como diretor de convergência. Saí mas voltei em 2019, atuando em áreas como marketing, vendas, inovação e estratégia digital. Desde 2021 trabalho no Google, como gerente de parcerias estratégicas para a indústria de notícias, com foco em empresas regionais.
Além de designer dos conceitos de capa, Ricardo Fiorotto fez viagens para fotografar, gravar e cobrir eventos do setor automotivo
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