Modelo é o primeiro passo na eletrificação da Jeep na Europa, mas ainda parece longe do mercado brasileiro A Jeep lançou no exterior seus primeiros veículos eletrificados há apenas dois anos, já que os híbridos plug-in Compass 4xe (disponível no Brasil), Grand Cherokee 4xe (chegada marcada para os próximos meses) e Wrangler 4xe estrearam no final de 2020. Hoje, porém, metade das vendas europeias já são de versões híbridas.
As expectativas são de que até 2025 haverá quatro modelos elétricos da marca no mercado e, cinco anos depois, que todos os carros da Jeep sejam movidos a eletricidade na Europa. É a urgência que a icônica fabricante norte-americana tem de se reinventar.
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O Avenger não é só o primeiro elétrico, mas também o primeiro Jeep a ser desenvolvido na Europa para europeus (é pequeno demais para os EUA), além de ter a produção estabelecida nesse continente, na fábrica de Tychy (Polônia), de onde também sai o icônico Fiat 500.
E antes mesmo de o primeiro carro ser entregue a qualquer cliente, já está claro que este será um modelo chave para a Jeep: 60% das 7 mil encomendas são de fora da Itália, o que constitui uma importante mudança para o grupo, cujo renascimento na Europa tem sido (até agora) centrado justamente nesse país em razão das origens da antiga Fiat Chrysler.
Avenger tem elementos visuais característicos da Jeep, como as menções à letra X
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O Avenger entra no extremamente competitivo e concorrido segmento de SUVs compactos apenas com a versão elétrica (exceto na Itália e na Espanha, onde haverá também uma opção equipada com motor 1.2 a gasolina), enfrentando principalmente os seus “familiares” do grupo Stellantis, como Opel Mokka-e e Peugeot e-2008, com os quais compartilha muitos de seus componentes.
Design
Isso significa que foi fundamental manter o DNA da Jeep no desenho do carro. E devemos admitir que o trabalho foi bem-feito: “A típica — embora reinterpretada — grade frontal de sete aberturas, as lanternas com desenho de X introduzidas no Renegade, a coluna C flutuante muito similar à usada no Compass há uma década e o X em várias áreas do Avenger, por fora e por dentro, ajudam a manter as raízes das quais a marca tanto se orgulha”, explica Daniele Calonaci, diretor de design da Jeep.
Respeitando a herança de design e reduzindo os custos de reparação em caso de pequenas batidinhas, o revestimento de plástico em toda a volta da carroceria revela que incidentes como arranhões no estacionamento ficarão mais visíveis nas proteções de plástico do que nos para-choques pintados ou nos faróis.
Jeep Avenger é o menor carro já construído pela marca
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Ainda mais determinante que esses elementos é a forma quadrada do Avenger, já que as extremidades dianteira e traseira foram “cortadas” (ele é 30 milímetros mais curto que outros modelos da Stellantis baseados na mesma plataforma, a eCMP2).
Isso também contribui para alcançar generosos ângulos que ajudam nas capacidades off-road do jipinho: 20 graus o de ataque, 20º o de transposição e 32º o de saída. A altura em relação ao solo é a maior do segmento, com 20,1 centímetros. Esse é o menor Jeep já construído — tem 4,08 metros de comprimento (16 cm menos que o Renegade).
Jeep Avenger – Painel tem design limpo, sem alavanca de câmbio, substituída por botões. Os comandos de climatização também são físicos
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Por dentro é possível apreciar a configuração simples e “clean” do painel, com botões para substituir a alavanca de câmbio e — felizmente — botões convencionais para funções de climatização. Os revestimentos revelam bom gosto e estão bem adequados à filosofia do veículo. Há detalhes na cor da carroceria que tornam o ambiente mais alegre, além de texturas que dão melhor aspecto aos plásticos cinza-escuros.
Tanto a instrumentação como a central multimídia usam uma tela diagonal de 10,25” (embora as versões básicas do Avenger contem com quadro de instrumentos de 7”). Os gráficos e softwares exigem pouco tempo para que o motorista se habitue a eles, com a operação nítida e intuitiva. Há ainda conexão para Apple CarPlay e Android Auto sem fio.
Jeep Avenger
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Espaço interno
Quatro adultos podem viajar com espaço suficiente no Avenger, mas um terceiro passageiro no banco traseiro ficará consideravelmente apertado no centro, mais duro e estreito (o que é normal nesse segmento). Pelo menos, o túnel central é baixo. A altura na segunda fileira é suficiente para pessoas de até 1,90 m e o espaço para as pernas também é satisfatório. A cabine tem boa luminosidade graças aos grandes vidros laterais e traseiro, que propiciam ao motorista melhor vista do exterior.
A Jeep diz que há 34 litros de volume para guardar pequenos objetos no interior, com destaque para uma útil bandeja emborrachada no painel, ótima para colocar óculos, chaves e celulares. Os bancos dianteiros têm função de massagem e são reguláveis eletricamente; a tampa do porta-malas também tem abertura elétrica (recursos que não se encontram facilmente em muitos de seus rivais).
Com 2,56 m de entre-eixos, o Avenger tem espaço razoável para levar até cinco adultos
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Falando em porta-malas, seu tamanho é mediano: são 380 litros — ainda assim, maior que o do Renegade (314 litros) e o do Opel Mokka-e (310 l), embora menos generoso que o do Peugeot e-2008 (410 l). Para quem gosta de viajar com animais ou precisa guardar equipamentos de praia e piscina, o piso ajustável tem uma superfície com revestimento que pode ser lavado.
Porta-malas do Jeep Avenger é um pouco maior do que o do Renegade
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Dentro de um ano, a Jeep honrará suas origens e lançará um Avenger 4×4. Por enquanto, porém, o SUV compacto terá apenas tração dianteira, mas será o primeiro da marca nessa configuração com controle de descida e sistema Select Terrain com os modos Eco, Normal, Sport, Areia, Lama e Neve.
O sistema de propulsão de 400 volts tem uma bateria de íons de lítio de 54 kWh montada sob os bancos, com 17 módulos e 102 células. Segundo a Jeep, a autonomia é de 400 km, podendo chegar a 550 km em ciclo urbano (WLTP). O motor montado na dianteira entrega o equivalente a 156 cv e 26,5 kgfm.
O carregamento pode ser feito com uma potência de 11 kW, para o qual serão necessárias pouco mais de cinco horas para a recarga completa, ou de 100 kW, que levará 24 minutos para aumentar a capacidade de carga de 20% para 80%. Há também uma bomba de calor para que seja possível aumentar o alcance em 10%.
Jeep Avenger terá versão com tração 4×4
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No entanto, nessa primeira experiência dirigindo o Avenger, o consumo de energia foi muito superior à média anunciada, que em si já é “estranha”: 12,5 kWh/100 km (ou 8 km por kWh). É muito menos que os elétricos Opel Astra, Peugeot e-2008 ou DS3 E-Tense (todos com médias de 15 kWh/100 km), que usam precisamente o mesmo sistema de propulsão do Jeep.
Para confirmar que esse dado é muito otimista, terminei meu trajeto de 70 km (incluindo autoestrada, zona urbana, estradas secundárias e até um desafiante caminho fora de estrada) com uma média de 19,3 kWh/100 km. Isso significa que a autonomia inicial de 399 km da partida diminuiu para 242 km (148 km a menos) na chegada. É claro que esse teste implicou acelerações e velocidades mais altas que aquelas sob as quais as homologações são feitas, mas é uma diferença muito maior do que a normalmente registrada nesse tipo de teste.
Jeep Avenger
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Os modos de condução são escolhidos por meio de um seletor igual ao encontrado em todos os Peugeot, Citroën, DS ou Opel. O mesmo ocorre com as informações de consumo do computador de bordo — que continua demorando demasiado tempo para acionar o modo selecionado. Outro aspecto com margem para progresso é o do tato do pedal, nada progressivo na transição entre a frenagem regenerativa e a hidráulica, o que faz sentir falta de potência no momento inicial em que pisamos no pedal da esquerda.
O ajuste da suspensão é excelente, com um grande equilíbrio entre estabilidade e conforto, independentemente do tipo de piso no qual se dirige. Os movimentos transversais da carroceria são muito bem contidos (com a habitual contribuição do centro de gravidade baixo por causa das baterias pesadas no piso), e a boa resposta da direção também ajuda o motorista a se envolver “emocionalmente” com a estrada.
O elevado número de voltas do volante (2,75) e o pequeno diâmetro de giro são úteis em zonas urbanas e manobras de estacionamento. Em um desafio de articulação de eixos organizado pela Jeep (para mostrar como o carro continua em movimento mesmo que uma roda de cada eixo perca o contato com o piso), o Avenger se saiu bem, mostrando-se à vontade em pisos escorregadios e superfícies irregulares. Cortesia da propulsão elétrica — como sempre, fácil de modular.
Jeep Avenger usa o mesmo conjunto mecânico do Peugeot e-2008
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Como o Avenger pesa pouco mais de 1,5 tonelada e tem potência limitada, é mais provável que o condutor fique satisfeito com a típica aceleração imediata a velocidades baixas e intermédias do que com a arrancada de zero a 100 km/h feita em 9 segundos.
Para isso, o modo Sport deve ser selecionado, já que os programas Eco (potência limitada a 82 cv/18,4 kgfm) e Normal (109 cv/22,4 kfm) são mais letárgicos que os 156 cv e 26,5 kgfm disponibilizados no Sport. A velocidade máxima de 150 km/h significa que só nas autobahnen alemãs pode haver problemas se o motorista decidir se aventurar na faixa da esquerda.
Em relação aos níveis de recuperação, podemos apenas deixar a roda livre ou mudar para B (um botão à direita do botão do câmbio), o que aumenta a desaceleração e a recuperação de energia (de 15 kW a 45 kW quando se liberta o pedal do acelerador). A posição B não produz o efeito dos sistemas One Pedal, o que significa que o Avenger nunca vai parar completamente a menos que se use o freio.
Uma função que seria melhor nem existir é a do limitador de velocidade, acionada por um botão que fica em uma alavanca do lado esquerdo do volante. Se o ativamos a uma velocidade relativamente baixa (ou se estiver ativo sem que o motorista perceba), o sistema corta o fornecimento de energia a partir da velocidade definida. Se isso acontece em meio a uma ultrapassagem, a situação se complica. E se a solução for definir o limitador para uma velocidade mais alta, podemos discutir qual é a relevância da função. O melhor é ignorá-la.
Primeiras impressões
Jeep Avenger
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O menor Jeep da história é filho de pai e mãe europeus, já que usa uma plataforma do grupo Stellantis e, assim como o sistema de propulsão, foi desenhado, projetado e construído na Europa. O design seduz; o interior convence pela simplicidade, montagem robusta e funcionalidade, e tanto o espaço interno como o bagageiro têm volumes aceitáveis para a classe.
Mais tarde haverá uma versão 4×4, mas por ora só tração dianteira. As performances são medianas, com acelerações suficientemente vigorosas, mesmo que a velocidade máxima e o zero a 100 km/h sejam modestos. O comportamento é muito equilibrado (a direção poderia ser um pouco mais pesada), mas a frenagem tem falta de progressividade e o consumo foi mais elevado do que o esperado (e muito mais alto que a estranhamente otimista média anunciada pela marca).
Depois de esgotar a edição de lançamento (muito equipada e tabelada em 39.500 euros), é possível esperar um Avenger de entrada com preço na casa dos 35 mil euros.
Jeep Avenger
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