Nova metodologia do Inmetro inclui um pênalti de 30% e promete indicar a autonomia nas condições reais de direção Em breve, a autonomia de todos os carros elétricos no Brasil irá baixar cerca de 30% – e isso não vai acontecer por conta de uma piora na tecnologia ou qualquer problema relacionado às baterias. A novidade é que o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) resolveu mudar a forma de divulgar o alcance do veículo movido a energia elétrica.
A justificativa para isso é aproximar a autonomia anunciada com a que ele pode conseguir na vida real. Assim, não se desespere quando souber que o alcance estimado sofreu uma brusca queda. O novo formato proposto pelo Inmetro será adotado já nos próximos meses e será de divulgação obrigatória por parte das fabricantes.
Autoesporte procurou o Inmetro para entender mais sobre a nova forma de divulgação, mas a entidade não respondeu. Quem atendeu à reportagem foi a Anfavea, associação das fabricantes de veículos, que participou das discussões da nova metodologia.
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Henry Joseph Jr., diretor técnico do órgão explicou que todos os testes de consumo de combustível (e autonomia, no caso dos elétricos) são feitos em laboratórios com condições controladas, em um cenário otimista diante das situações cotidianas de uso dos veículos.
“Nos Estados Unidos, há algum tempo, eles observaram que os testes levavam a valores muito bons quando comparados ao uso real, na rua”, explica. “Essa diferença acabou sendo bastante discutida. Então, criaram um fator de deflação, feito em vários tipos de veículo. Assim, sobre o valor obtido no laboratório é aplicada a deflação. Na hora que o consumidor pega o consumo de combustível de km/l, o valor que vê na etiqueta, é muito próximo ao que vai aferir no uso real”, segue.
É exatamente isso que está acontecendo no Brasil com os carros elétricos. Na edição 2023 do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), o Inmetro vai usar o modelo de medição para aferir a autonomia dos eletrificados de acordo com o método EPA, utilizado nos Estados Unidos e diferente do WLTP, usado principalmente na Europa.
Assim, após os resultados dos testes de laboratório, será aplicado uma espécie de pênalti que varia de 20% a 30%. Vale lembrar que isso já acontece nas medições de consumo de combustível nos modelos a combustão.
Como fica?
Em uma situação hipotética, um carro que até ano passado tinha autonomia declarada de 200 km, passará a exibir o selo com alcance de aproximadamente 140 km.
A adoção do novo formato está acontecendo aos poucos, à medida em que os elétricos chegam à linha 2023. No caso do Volvo XC40 2023, a autonomia aferida no ciclo WLTP é de 420 km. Com a nova regra, a autonomia padrão Inmetro foi para 231 km. Na prática, a nova autonomia vai refletir um cenário mais pessimista.
Além do Volvo, a Nissan reduziu a autonomia do Leaf de 272 km (no ciclo EPA) para 192 km pela nova medição.
Volvo XC40 Recharge
Divulgação
Entidades divergem sobre o assunto
Em entrevista a Autoesporte, Adalberto Maluf, Presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e diretor da BYD do Brasil, declara que “a associação acha importante todo tipo de iniciativa que crie uma padronização”.
Porém, julga a mudança no modelo de aferição “um pouco precipitada” por considerar que esse é um mercado em crescimento, mas que representou somente 0,04% do mercado de veículos zero-quilômetro no país em 2022. Além disso, segundo o executivo, não houve uma mudança na forma de testar, mas sim na divulgação. “É o mesmo teste, só que tiram 30% do resultado”.
Posto EZVolt
Divulgação
“A padronização é boa para que o consumidor saiba como se posicionar em cada contexto. Mas ninguém do setor imaginava que fossem usar esse pênalti de 30%. É um percentual que o EPA (método de aferição dos EUA) usa em relação ao padrão internacional, mas isso sobre um país com comportamento diferente do Brasil”, alega Adalberto.
Já a Anfavea, a associação das fabricantes de veículos automotivos, é a favor da nova mudança. Segundo o diretor técnico da entidade: “Se você usar o carro em condições muito favoráveis, sem ar-condicionado, em uma estrada mais reta, com pneus na pressão adequada, pouco peso, sem acelerações bruscas, o clima estiver na faixa de 20 a 22 graus, todos esses fatores vão favorecer muito a autonomia. Mas essas condições não são as que as pessoas enfrentam no dia a dia”.
Sobre a mudança abrir precedentes para afastar o consumidor por causa da baixa autonomia, Henry Joseph Jr. explica: “esse tipo de procedimento (nova metodologia) precisa ser transformado em algo que o consumidor enxergue como algo mais próximo (de sua realidade)”.
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