Eram necessárias 22 horas para transformar chapas de aço no pequeno compacto nacional há 25 anos Reportagem publicada originalmente na Autoesporte no. 385, de junho de 1997
Um carro a cada 50 segundos. Normalmente ouve-se um número aproximado quando uma marca inaugura uma fábrica, lança um novo modelo ou simplesmente responde quanto à sua capacidade de produção. Mas esse número não responde a outra pergunta: quanto tempo demora para um automóvel “nascer” dentro da fábrica?
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Evidentemente a questão envolve uma boa dose de relatividade. Afinal, pode-se considerar como “nascimento” de um automóvel o momento em que os executivos de determinada marca decidem fabricá-lo. Daí até esse modelo estar rodando nas ruas passará algo entre dois e quatro anos, que serão usados em pesquisa e desenvolvimento do produto. Mas aqui o que interessa é o tempo necessário unicamente na fabricação do carro.
Para avaliar o tempo de “parto” de um automóvel, a Autoesporte visitou a linha de montagem da Ford em São Bernardo do Campo (SP), onde são produzidos o Ka, a linha Fiesta e, em menor escala, a picape Pampa. Do momento em que uma folha de aço entra na prensa ao embarque do automóvel pronto nas “cegonhas” para entrega às concessionárias, transcorrem em média 22 horas e 15 minutos. Esse tempo pode variar de uma unidade para outra e há dois motivos para isso.
O principal é que a linha de montagem do Ka é a mesma de onde sai o Fiesta. De acordo com a ordem de produção, podem sair cinco Ka para um Fiesta ou vice-versa.
O outro é que pequenos problemas, absolutamente normais em uma linha de produção, podem atrasar o processo em alguns minutos.
Um detalhe interessante: segundo Oswaldo Ramos Jr., supervisor de lançamentos da Ford do Brasil, o tempo de produção do Ka seria praticamente o mesmo para fabricar, sob o mesmo processo, um carro maior como o Mondeo, se ele fosse fabricado no Brasil. A diferença de tempo seria muito pequena, causada somente pela maior quantidade de equipamentos do Mondeo.
Desta linha de montagem sai um carro a cada 55 segundos. Acompanhe esse processo, tendo como base a produção do Ka e sem levar em conta o tempo de submontagens de componentes como motor, bancos, câmbio e painel (que são montados paralelamente, fora da linha principal, e se juntam prontos ao corpo do carro).
00h00: A bobina de aço é introduzida na máquina de corte. Cada uma pesa, em média, dez toneladas, com folhas de um metro de largura e 0,8 milímetro de espessura. As folhas de metal são cortadas em pedaços, cujo tamanho e formato são determinados pela “ferramenta de corte” – uma enorme peça de metal que atua como uma guilhotina. Aqui há uma preocupação: estudar a configuração da peça para perder o mínimo possível de aço.
Na primeira etapa do processo, só bobinas de aço
Cláudio Laranjeira/Autoesporte/Acervo MIAU
00h01: As chapas cortadas são levadas para máquinas chamadas Transfer Triaxis, que estampam as partes que formam a estrutura do carro. Essas peças já são feitas com furos de precisão, que servirão de referência para a montagem posterior. Aqui nasce a plataforma (assoalho) do carro, por meio da união das seções dianteira, traseira e do motor.
Chapas cortadas e estampadas, é hora de unir tudo com solda
Cláudio Laranjeira/Autoesporte/Acervo MIA
01h20: Primeira linha de montagem propriamente dita e onde é estampado todo o corpo do carro. O assoalho recebe as caixas de rodas, das portas, reforços de para-choques, painel, pedais e todas as longarinas. Um aparelho chamado CMM (Computerized Measure Machine, ou Máquina de Medição Computadorizada) mede, por amostragem, as especificações das carrocerias. As correções são efetuadas sempre que detectadas imperfeições acima de dois milímetros. As CMMs são interligadas à rede mundial da Ford. Com isso as diversas linhas de produção podem trocar informações sobre eventuais problemas surgidos na linha de montagem. Na última fase o contato humano com as carrocerias é mínimo: os painéis laterais são encaixados ao assoalho. É aqui que eles são soldados – até então estavam presos apenas por dobras. Depois de armada, a carroceria ganha para-lamas, capô e portas laterais e traseira.
04h40: A carroceria entra na seção de pintura. Primeiro ela recebe um banho de detergente a 60 graus para eliminar óleos e graxas. Vem a seguir a preparação de fosfato para o E-Coat (camada de proteção anticorrosiva). Após o E-Coat, o carro é enxaguado em água desmineralizada para retirar o excesso, passando em seguida para a calafetação (feita com plástico PVC). Depois vem o banho de imersão em primer (tinta-base que nivela a superfície e prepara a carroceria para a pintura final). Há quatro cores de primer: cinza-clara, marrom-avermelhada, preta e verde-clara, aplicadas de acordo com a cor pedida pelo consumidor. Com o primer seco, a carroceria entra em linha para reparar eventuais imperfeições por meio de lixamento. Finalmente são borrifados o Base-Coat (esmalte que dá a cor ao carro) e o Clear-Coat (verniz que dá brilho à pintura). O trabalho de pintura propriamente dito dura cerca de oito horas, se feito todo no mesmo dia.
Na primeira etapa da pintura a carroceria é limpa para eliminar graxas e óleos
Cláudio Laranjeira/Autoesporte/Acervo MIAU
14h40: O carro entra na linha de acabamento. São instalados vidros, carpetes, bancos, painel, para-choques, maçanetas, fiação elétrica e demais acabamentos, além dos equipamentos do interior e da carroceria.
Na linha de montagem as portas são separadas para facilitar a instalação dos componentes internos
Cláudio Laranjeira/Autoesporte/Acervo MIAU
16h00: É a vez da parte mecânica. A carroceria completa recebe motor, câmbio, sistema de suspensão e de freios. Em seguida são colocadas as rodas, já montadas com os pneus. As portas, embora acompanhem o corpo da carroceria desde a linha de fabricação, são instaladas por último para facilitar a operação de colocação dos demais componentes internos. Depois o carro recebe de dois a três litros de combustível para rodar dentro da fábrica e na concessionária. A partir do momento em que ele sai andando por meios próprios ele é considerado efetivamente “produzido”.
18h30: O carro está pronto, mas ainda é necessário regular os faróis, checar o alinhamento das rodas, fazer testes de emissões e de vedação.
Carro pronto, mas ainda faltam os testes como o de vedação
Cláudio Laranjeira/Autoesporte/Acervo MIAU
21h50: Revisão de entrega. Se nenhum problema for detectado, o carro receberá o selo de aprovação da vistoria final.
22h15: Carro pronto. Se não ficar estocado no pátio da fábrica, ele poderá ser embarcado imediatamente no caminhão-cegonha. As calotas viajam dentro do porta-malas e só serão colocadas na concessionária.
Tudo ok e o carro é liberado para embarque no caminhão-cegonha. As calotas vão no porta-malas
Cláudio Laranjeira/Autoesporte/Acervo MIAU
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