(FOLHAPRESS) – O engenheiro Jerome Cadier, 50, está feliz. Uma das duas perguntas que mais ouviu nos últimos tempos não precisa mais ser respondida. Todos queriam saber se a Latam -que em maio de 2020 aderiu à recuperação judicial no Estados Unidos (processo chamado de Chapter 11)- iria ser vendida para a Azul.
A filial brasileira da Latam, presidida por Cadier, esteve por meses no alvo da Azul, rival comandada por John Rodgerson, que via na fusão das duas companhias a chance de despontar como um dos maiores grupos da aviação mundial.
Mas no dia 3 de novembro a empresa aérea chilena-brasileira anunciou a sua saída do Chapter 11. “Deixamos esse processo mais fortes do que nunca, com um caixa de US$ 2,2 bilhões e uma dívida reduzida em US$ 3,6 bilhões”, disse Cadier. “Agora eu sou o maior pesadelo dos meus concorrentes.”
Mas existe uma outra dúvida que o presidente da Latam Brasil não deve parar de ouvir tão cedo: o que fazer para comprar uma passagem aérea barata?
“Tem gente que acha que precisa ficar acordado de madrugada, ou usar computadores diferentes, mas nada disso funciona”, afirmou o executivo à Folha de S.Paulo.
“Compre antecipado ou aproveite uma promoção”, disse. “Se você sabe que vai ter promoção, espere. Se não sabe, compre logo. A cada dia que se aproxima a data da viagem, mais cara fica a tarifa. Avião mais cheio é mais caro, avião mais vazio é mais barato.”
De acordo com Cadier, o preço das passagens só deve voltar à normalidade a longo prazo, depois que a crise do petróleo, detonada pela Guerra da Ucrânia, for contornada. O querosene de aviação (QAV) responde, sozinho, por 40% dos custos das companhias aéreas. E só em 2022 o preço desse combustível saltou 60%.
A alta do QAV pesa mais no bolso do brasileiro do que de qualquer outro viajante mundial, afirma Cadier. “O Brasil tem o querosene de aviação mais caro do mundo”, diz o presidente da Latam Brasil.
Segundo a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), o QAV brasileiro é entre 30% e 40% mais caro que o dos Estados Unidos, um dos maiores mercados de aviação doméstica do mundo, considerado referência global. O Brasil é único país do mundo que tributa o QAV, diz a entidade.
Cadier espera que a questão já seja endereçada pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Como dirigente de uma companhia aérea, eu não me importo se a Petrobras vai ser ou não privatizada. Mas eu me importo em ter um combustível mais barato, para oferecer uma tarifa mais baixa e transportar mais passageiros”, diz.
Enquanto essa realidade não chega, a Latam Brasil promete promoções neste fim de ano. A alta temporada, nos meses de dezembro e janeiro, representa cerca de um terço de toda a demanda da companhia -serão 7 milhões de passageiros no período, que terá 3.200 voos extras, nacionais e internacionais.
“Vamos oferecer passagens mais baratas para os próximos dois meses, mas dentro da realidade de alta temporada”, diz Cadier, garantindo que vão haver ofertas na Black Friday, dia 25.
Na noite de sexta (11), a empresa aérea lançou o seu “Esquenta Black Friday”, com passagens a partir de R$ 169, para viajar entre janeiro e março de 2023. Os preços promocionais valem até quarta-feira (23).
O executivo se mostra particularmente preocupado com a operação do aeroporto de Congonhas, na capital paulista -que, assim como o aeroporto de Guarulhos (SP), é um ponto “nevrálgico” na operação da Latam Brasil.
“Todos os nossos aviões, em algum momento, passam por lá”, diz. Mas a Infraero decidiu aumentar em mais de 10% a capacidade do aeroporto no próximo mês de abril, afirma, antes dos investimentos previstos no plano de concessão da Aena, que venceu o leilão.
“Você aumenta a quantidade de passageiros em um aeroporto que já opera no seu limite e dá o aval para o início de uma obra monstruosa de reforma. Imagina o caos!”, diz ele. “Foi uma medida pouco inteligente.”
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