SUV elétrico chinês custa R$ 214.900 e chega ao Brasil com proposta ousada; veja as primeiras impressões “Que carro legal. É de qual marca?”, me perguntou um rapaz enquanto plugava o Neta X em uma estação de recarga rápida. Parece um questionamento inocente, mas expõe os primeiros obstáculos que a nova marca chinesa terá de enfrentar no Brasil após a chegada de seu primeiro SUV elétrico. A primeira loja inclusive acaba de ser inaugurada no Rio de Janeiro.
Se não estivesse próximo ao carro para responder, o rapaz provavelmente ficaria na dúvida. Diferentemente de BYD e GWM, que têm as siglas estampadas em logotipos, o Neta X traz apenas o símbolo — ainda desconhecido — da empresa chinesa. O Neta X chega ao Brasil por R$ 214.900 na versão mais equipada, a 500 Luxury (conheça todas clicando aqui).
É concorrente direto do BYD Yuan Plus, e seu diferencial está no fato de ser mais barato que o conterrâneo. A questão é que a BYD já se consolidou — talvez até de forma inédita — no Brasil. Para a Neta, os desafios só estão começando. Até mesmo na China, sua terra natal, onde paralisou a produção meses atrás. A empresa garante que nada muda por aqui.
Há um extenso trabalho de consolidação pela frente e, precisamos falar sobre isso, o desafio de fazer com que a Neta não se torne uma Seres (ou Geely, SsangYong, Changan e tantas outras empresas asiáticas que não vingaram).
Posicionamento é ponto forte
Neta X chega ao mercado com proposta ousada
Renato Durães/Autoesporte
O preço do Neta X é matador. Por R$ 214.900, o novo SUV é consideravelmente maior que o Yuan Plus, que custa R$ 235.900 e servirá como base para nossas comparações. São 4,61 metros de comprimento (+ 16 cm), 1,86 m de largura (- 1 cm), 1,62 m de altura (- 1 cm) e 2,77 m de distância entre-eixos (+ 5 cm). O porta-malas tem abertura elétrica e comporta 508 litros (+ 68 l).
Lanternas interligadas também são de LED no Neta X
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O design recorre a um apelo futurista, com faróis de LED estreitos e uma dianteira clean. Na traseira, assim como praticamente todos os SUVs chineses, o Neta X tem lanternas de LED interligadas. Chegou a hora dos designers pensarem abordagens mais criativas.
Detalhe do conjunto de iluminação frontal do Neta X; apelo minimalista é evidente
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O Neta X não é um carro difícil de agradar, mas sinto que falta “molho”. A impressão é de que o design ficou muito simples, talvez para elucidar um lado minimalista que não combinou com a proposta tecnológica. Por sorte, as rodas de 18 polegadas seguem uma linguagem mais esportiva. Fica claro que sua cabine é mais interessante que o design exterior, mas também não foge do mais recente (bom) padrão de design chinês. É para lá que vamos agora.
Qualidade de carro chinês?
Interior do Neta X é a parte mais chamativa do novo carro chinês
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O acabamento dos modelos chineses melhorou, e o Neta X acompanha tal evolução. A começar pela variedade de materiais, misturando couro sintético, borracha, tecido aveludado, metal escovado e plástico de boa qualidade (menos o do console).
Central multimídia tem layout adequado e responde bem aos comandos por toque
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Seu desenho segue o conhecido padrão demarcado por linhas horizontais contínuas, com uma enorme central multimídia de 15,5 polegadas ao centro. A resolução do display é boa, projetando cores vibrantes e chamativas.
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Os bancos inteiriços revestidos por couro perfurado são muito confortáveis
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Os comandos do ar-condicionado foram integrados à central multimídia, mas sua usabilidade é intuitiva. Em poucos cliques, é possível alterar temperatura e intensidade da ventilação. Como o conterrâneo Volvo EX30, os controles físicos dos retrovisores externos foram abandonados.
É necessário acessar o painel de controle do carro (que está bem localizado em uma faixa inferior na central), escolher o lado do espelho e usar o joystick do volante. Uma função que antes demandaria pouco esforço agora exige muita atenção do motorista.
Painel de instrumentos digital passa longe de ser interessante
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Já o painel de instrumentos digital é somente “ok”. Não encanta pela qualidade e tampouco tem um layout bonito. Apenas cumpre sua função. Um head-up display acrescentaria um ar mais futurista, mas a ausência do item é justificada pelo preço do SUV.
Como anda?
Descubra se o novo Neta X agrada ao volante como os carros da BYD
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Neste pacote mais caro, o 500 Luxury, o Neta X tem bateria de 64,1 kWh desenvolvida pela CATL (que também é fornecedora da Stellantis e da Audi). O conjunto abastece o motor elétrico dianteiro de 163 cv e 21,4 kgfm. São números equivalentes aos de SUVs compactos em suas versões turbinadas.
Fiquei com a impressão de que a Neta preteriu o desempenho para melhorar a autonomia de 317 km, segundo o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV). Pisando fundo, vai de zero a 100 km/h em 9,5 segundos, bem abaixo do BYD Yuan Plus (de 204 cv), que cumpre a marca em 7,3 s.
Gestão de energia na estrada corrobora para sua autonomia
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Minha primeira experiência foi totalmente rodoviária. Saímos de São Paulo com 75% da bateria em direção à nossa pista no Rota 127 Campo de Provas — um trajeto de 150 km, com duas pessoas a bordo e o ar-condicionado ligado o tempo todo. Faltando 30 km para chegar ao destino, paramos para recarregar e tomar um café num autoposto na Rodovia Castello Branco. A carga estava em 45%.
Sendo assim, mesmo em trajeto rodoviário, alternando entre 100 km/h e 120 km/h, o Neta X consumiu exatos 30% de sua bateria para percorrer os 120 km iniciais. Em proporção, o consumo energético está melhor que o declarado pelo Inmetro. Resta saber como a gestão de autonomia se comportará em cargas mais baixas. Para isso, precisaremos de um teste mais longo que este primeiro contato.
A dinâmica de condução é neutra, lembrando o Yuan Plus. Nota-se que, pelo tamanho de seu corpanzil e as proporções avantajadas, o Neta é mais desengonçado que o rival em curvas rápidas. Os balanços laterais da cabine expõem que se trata de um carro desenvolvido para rodar na cidade.
Arranjo de suspensão do Neta X poderia ser mais rígido
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Enfrentando buracos, o motorista sentirá solavancos e impactos. Nada que realmente incomode. No asfalto ondulado, fica evidente que o acerto de suspensão cumpre o dever de filtrar as oscilações ao manter a carroceria centralizada.
Também brinquei com os modos de condução. São quatro: Eco, Sport, Conforto e One Pedal. Eles alteram a rigidez do volante e a entrega de torque, mas pouco modificam a dinâmica. O maior contraste está no modo Sport, que deixou o carro mais solto e agradável, como uma antítese à configuração One Pedal que freia instantaneamente ao aliviar o pedal do acelerador.
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Outra boa notícia é que o Neta X chega ao Brasil equipado com pacote ADAS completo. Sistema de frenagem de emergência, detector de placas e assistente de permanência em faixa marcam presença. Para acionar o controle de cruzeiro adaptativo, basta dar um toque para baixo na pequena alavanca de câmbio instalada na coluna de direção. Mais fácil, impossível.
Assistências eletrônicas do Neta X demonstram bom comportamento
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À frente do motorista há uma câmera de monitoramento. Se o condutor olhar para o celular, se distrair ou tomar qualquer atitude que não seja manter a atenção na via, será advertido com um alerta sonoro muito intrusivo. O mesmo vale para o detector de placas, pois, ao exceder a velocidade, um bipe intermitente irá soar na cabine. Ambos os comandos podem ser desligados.
Por fim, a vida cotidiana com o SUV é facilitada pela câmera 360°. O Neta X ainda é capaz de exibir um diagrama 3D do veículo na central multimídia. Trata-se de um bom recurso para identificar se há algum obstáculo fora do ângulo de visão do condutor. Além disso, as projeções são bonitas.
O bom posicionamento é suficiente?
A estratégia da Neta contra a BYD é agressiva. Considerando que SUVs compactos como o Honda HR-V já passam dos R$ 200 mil — como é o caso da versão Touring —, um modelo elétrico e cheio de tecnologia por R$ 214.900 de fato desperta curiosidade.
Em comparação com o seu principal rival, o Yuan Plus, o persuasivo Neta X ainda custa cerca de R$ 20 mil a menos. Tudo isso entregando o mesmo nível de tecnologia, um interior caprichado e espaço interno mais generoso que o do rival. Só que o mercado brasileiro nem sempre é justo, e carros bem posicionados também podem fracassar.
O que resta para a Neta é o fortalecimento de sua imagem. A marca iniciou suas operações no Brasil oficialmente há pouco mais de sete meses, e ainda precisa superar os maus bocados no mercado chinês. Um SUV elétrico como o X só poderá surpreender o público e fazer sucesso em vendas se ganhar o mundo e passar a ser mais conhecido.
Ficha técnica: Neta X 500 Luxury
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