Leitores repercutem a dificuldade em substituir o airbag defeituoso da Takata, que gerou duas mortes no Brasil nos últimos meses Imagine ter medo de dirigir por conta do risco de ser perfurado por uma peça do airbag. Essa é a situação que a leitora Amanda Duarte, de São José do Rio Preto (SP), viveu com um Citroën Aircross 2016 compartilhado com sua mãe. Ela tentava agendar o recall da peça defeituosa desde agosto de 2024, mas foi colocada em fila de espera pela concessionária. Em janeiro de 2025, quase cinco meses depois, o reparo foi feito.
“Estávamos com medo de andar com o veículo. Infelizmente, não havia outra opção”, lamentou Amanda. Por mais que o aviso de recall do veículo constasse a necessidade de também substituir o airbag do passageiro, Amanda ouviu de um técnico da Citroën que a mensagem no site é “genérica”, e que o próprio sistema da oficina é capaz de indicar sobre a condição de troca.
Airbags mortais da Takata: como consultar se seu carro está em recall
Outros leitores vivem a mesma situação, pois tentam agendar o reparo obrigatório do airbag, mas são colocados em filas de espera. É o caso de Gabriel Berman, de Porto Alegre (RS), que alegou que uma concessionária da BMW o colocou em uma fila de espera de sete meses para a troca do insuflador. “Tentei fazer o recall [imediato] do airbag [em dezembro de 2024], mas agendaram apenas para julho de 2025”, disse o engenheiro, que preferiu não revelar qual o modelo de seu veículo.
Recall da BMW compreende versões dos SUVs X1, X3, X5 e X6, bem como os sedãs Série 3 e Série 5
Divulgação
Denúncias do mesmo tipo também surgiram no site Reclame Aqui, afetando carros de outras marcas. O cenário ficou mais urgente após duas pessoas perderem a vida em Rio Verde (GO) e no Rio de Janeiro (RJ), nos dias 11 e 23 de dezembro, respectivamente. Estilhaços metálicos foram lançados do insuflador do airbag, levando ambos os motoristas a óbito.
O que dizem as marcas?
Autoesporte consultou a Stellantis, dona da Citroën, sobre a possível falta de peças para o reparo denunciada pela leitora de São José do Rio Preto. A marca alega que se trata de uma situação pontual de logística. Confira:
“A Stellantis esclarece que não há problema com falta de componentes para a realização da campanha de recall dos airbags Takata. Situações pontuais podem ocorrer diante do giro de estoque e a logística envolvida para a distribuição das peças ante a magnitude da campanha. A Stellantis trabalha continuamente com seus parceiros no intuito de assegurar a rápida execução do reparo nos veículos dos consumidores. Para obter mais informações o cliente deve procurar a rede de concessionárias ou a central de atendimento da marca de seu veículo.”
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Autoesporte também consultou a BMW sobre o caso de Gabriel Berman, mas a fabricante ainda não se posicionou. A reportagem será atualizada em caso de resposta.
O maior escândalo automotivo da história
Mais de 64 milhões de veículos receberam o airbag defeituoso da fornecedora japonesa Takata entre 2000 e 2015. O risco culminou no maior recall da história da indústria automotiva global.
O problema está numa peça chamada insuflador. Unidades defeituosas permitem a infiltração de umidade, que pode desgastar as partes metálicas do airbag. Quando a bolsa é disparada, em um acidente, a intensidade do impacto faz o insuflador se romper, lançando estilhaços contra o motorista.
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Os fabricantes são obrigados a anunciar recalls na internet, televisão, jornais e rádios. Alguns chegam a enviar cartas aos proprietários. Os sites também trazem abas específicas para a consulta das campanhas, bem como as orientações para o agendamento do reparo.
No Brasil, o recall da Takata afeta veículos de 16 fabricantes: Audi, BMW, Chevrolet, Chrysler, Citroën, Dodge, Fiat, Ford, Honda, Mitsubishi, Mercedes-Benz, Peugeot, Renault, Subaru, Toyota e Volkswagen. A Volvo abriu uma campanha pelo mesmo motivo, mas seus airbags são da fornecedora Autoliv.
As duas mortes mais recentes
Acidente dispara airbag em Rio Verde (GO); motorista do Civic morreu na hora
Reprodução/TV Anhanguera
Eurides Ferreira Lopes morreu após se envolver em um acidente de trânsito no dia 11 de dezembro, em Rio Verde. A colisão foi suficiente para disparar o airbag do Honda Civic, que lançou estilhaços metálicos. Um deles atingiu o pescoço da vítima, segundo a polícia científica.
Uma semana depois, no dia 23 de dezembro, o policial militar Marcel Magno também foi perfurado por uma peça do airbag no Rio de Janeiro. O veículo envolvido no caso era um Toyota Corolla.
As marcas japonesas foram as mais afetadas pelo recall da Takata. A Honda repercute 943 mil unidades defeituosas e 861.617 veículos consertados, correspondendo a uma reparabilidade de 92%. Já a Toyota tem 2.034.745 veículos no recall, mas 1.892.091 já foram consertados. Neste caso, o índice é de 93%.
Consultadas por Autoesporte, outras duas marcas divulgaram as estatísticas do recall. A HPE Automotores, responsável pela Mitsubishi, diz que 67.777 veículos estão envolvidos no Brasil, mas 84% deles passaram pelo reparo. A Nissan tem cerca de 340 mil chamados, com 81% de atendimento. Demais fabricantes não divulgaram seus índices.
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