Chegou a hora de um exercício de futurologia. O carro de 2084 será elétrico? Voador? Autônomo? Especialistas e grandes executivos do setor opinam Se você é um entusiasta de carros e filmes, Herbie não deve ser um nome estranho. O apelido ficou famoso ao ser usado para se referir a um exemplar do Volkswagen Fusca, que se tornou um dos carros mais queridos do mundo ao estrelar o filme Se Meu Fusca Falasse, de 1968. Depois desse, outros cinco longas inspirados na história do simpático Fusquinha que possui consciência e se comunica com os donos ganharam as telonas.
Robert Stevenson, que dirigiu o filme no final da década de 1960, talvez não imaginasse os avanços tecnológicos que seriam alcançados pela indústria automotiva nas seis décadas subsequentes.
Uma pessoa nascida em 1960 está, hoje, com 64 anos — idade próxima à desta publicação, que completa 60 anos neste mês. De lá para cá, é verdade que muita coisa mudou. Motores mais potentes e eficientes, ou mesmo híbridos e elétricos; melhorias em peças e itens de segurança; automatização do processo produtivo; e digitalização de equipamentos são apenas a ponta do iceberg quando se fala na evolução dos veículos.
Os carro ainda não falam como Herbie, o Fusquinha Turbinado, mas já têm IA e pacotes de segurança avançados
Pablo Gonzalez/Autoesporte
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Dos anos 1960 para cá, os carros podem até não ter desenvolvido vontade própria, assim como Herbie, mas atualmente já é possível “conversar” com o próprio veículo. Ao dizer um simples “olá”, alguns modelos permitem que você peça sua música favorita ou busque endereços no GPS em linguagem coloquial.
Se muita coisa evoluiu na indústria automobilística nessas últimas seis décadas, os próximos 60 anos dão asas à imaginação dos curiosos, criando um universo de probabilidades para o aprimoramento e para a descoberta de novas tecnologias. E enquanto novas tendências devem surgir, outras atuais vão virar “coisa de carro antigo” no mercado do futuro.
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Afinal de contas, como será o carro daqui a 60 anos? Sabemos que esta pode parecer uma pergunta vaga — e que um guarda-chuva de questionamentos é aberto ao se deparar com tal questão. A partir disso, vamos trazer possibilidades para as principais interrogações que devem surgir nos próximos anos.
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O carro do futuro será voador?
Possivelmente é a pergunta mais feita quando se fala em carro do futuro. Muitos enxergam nos carros voadores uma espécie de solução definitiva para o trânsito intenso e o fluxo inacabável de pessoas nas grandes cidades. Fato é que os eVTOLs (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical) já estão em processo de testes e aprovação para que se tornem realidade. Mas eles são considerados “carros”? Para muitos, são não mais do que sucessores dos helicópteros.
Junto de potências como Alemanha, China e Estados Unidos, o Brasil é um dos poucos países que têm seu eVTOL em desenvolvimento. O modelo é produzido pela Eve Air Mobility, em parceria com a Embraer, com financiamento de R$ 500 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil (BNDES) para a instalação de um polo industrial em Taubaté (SP). Ainda assim, o projeto aguarda aprovação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para ser viabilizado.
Eve Air Mobility é produzido em parceria com a Embraer e já recebeu aporte de R$ 500 milhões do BNDES para viabilização
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Ainda há diversos empecilhos para a efetividade do conceito, tanto que muitos especialistas descartam o “carro voador” como parte do futuro da mobilidade. “As pessoas que querem carro voador vão ficar tristes, mas não acho que esse seja o caminho. A própria Inteligência Artificial e a cultura de dados são a inovação que vai nos levar para esse futuro”, afirma Ingrid Barth, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartup). Já o CEO da Bosch é mais otimista, conforme você poderá conferir mais adiante.
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Os carros do futuro serão sustentáveis?
É um dever da indústria tornar os automóveis do futuro mais sustentáveis. Por isso, já existem estudos e projetos para viabilizar combustíveis que agridam menos o meio ambiente, para além da eletrificação.
Com o objetivo de livrar completamente das emissões de CO2, alternativas como os combustíveis sintéticos, produzidos com dióxido de carbono e hidrogênio, e o uso de hidrogênio para mover veículos elétricos vêm ganhando espaço. Anderson Suzuki, diretor de desenvolvimento de hidrogênio da Hyundai, afirma que o maior desafio é tornar essas alternativas viáveis economicamente: “O hidrogênio é uma meta, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Os custos são altos e buscamos soluções para mostrar aos governos que é possível fazer”.
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Porsche e Toyota também investem em tecnologias de propulsão sustentáveis. A primeira trabalha no desenvolvimento do e-Fuel, um combustível sintético derivado de metanol. O objetivo é prolongar a vida útil de motores a combustão. Contudo, especialistas apontam que o metanol é tóxico, o que leva à necessidade de mais investimentos e pesquisas para resolução das limitações de uso e melhora da eficiência da tecnologia.
Já a marca japonesa tem em seu portfólio o Mirai, um dos primeiros veículos de produção movidos a célula de hidrogênio no mundo. Nesse caso, a substância é combinada ao oxigênio para gerar eletricidade, o que resulta em água destilada como emissão. Porém, tal solução ainda é muito pouco acessível ao consumidor e também demanda mais desenvolvimento.
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Em 60 anos, toda a frota mundial será elétrica?
Talvez essa seja a resposta mais difícil de elaborar. Ainda mais depois de algumas fabricantes voltarem atrás em planos que previam o fim da produção de veículos a combustão nos próximos anos. Em alguns casos, como o de corridas por aplicativo, já é possível imaginar frotas com emissão zero.
Segundo estudo da 99, em 2040, 85% da frota de veículos cadastrados para esse tipo de serviço no Brasil serão elétricos.
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“A evolução das baterias é algo assustador. Anos atrás a gente falava em 100 km de autonomia e hoje temos carros que chegam a 1.000 km. Eu acho que isso ainda vai evoluir, mas não serão os elétricos sozinhos. Acho que serão os elétricos com mais algum tipo de tecnologia que agrida menos o meio ambiente”, completa Thiago Hipólito, diretor de Inovação da 99.
Linda Jackson, CEO mundial da Peugeot, acredita que a mobilidade no futuro possa valorizar o prazer de dirigir ao analisar o atual cenário, no qual já existem veículos que estacionam e se deslocam sem a necessidade de um condutor humano: “Não sei se serão elétricos, talvez a gente encontre outra tecnologia. Mas não importa a forma de propulsão. Quero que as pessoas tenham a possibilidade de escolher se querem dirigir ou ser dirigidas [por carros autônomos]. Talvez eu seja um pouco antiquada, mas não gostaria que, daqui 60 anos, [a frota] fosse só autônoma. Eu ainda gostaria de ter o prazer de dirigir”, defende.
Linda Jackson, CEO mundial da Peugeot, defende que mesmo com evolução tecnológica, dirigir deve continuar sendo divertido
Pablo Gonzalez/Autoesporte
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E o design?
Em 60 anos, é provável que Fuscas como o Herbie não sejam mais vistos como modelos clássicos, mas sim como carros tão raros que apenas poucos colecionadores serão capazes de ter um na garagem. Em contrapartida, modelos novos que vemos hoje pelas ruas se consagrarão como as moscas brancas das próximas gerações.
Diversas fabricantes trazem novas soluções visuais em seus últimos lançamentos. Faróis afilados, arranjos de lanternas unidos por peças iluminadas, grades dianteiras gigantes ou até mesmo a ausência delas… Todas essas características se tornaram tendências.
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Renato Durães/Autoesporte
Para Stefan Hartung, CEO mundial do grupo Bosch, design e conectividade serão algumas das características mais renovadas nos carros do futuro: “Veremos veículos com designs completamente diferentes [do que conhecemos hoje nas próximas décadas]. Em 60 anos, com certeza também falaremos sobre ter o veículo totalmente conectado, significando que o carro não funcionará de forma alguma sem a conectividade. Não poderá existir sem ela, porque ela estará em qualquer lugar, será como energia elétrica”.
Nas cabines e nos painéis de um automóvel, onde o motorista consegue ter um contato maior com itens de conectividade, telas cada vez maiores e interativas tomarão conta das centrais de instrumentos e multimídia. A sobrevivência dos botões físicos ainda é uma grande incógnita, já que, em meio a desenhos minimalistas e futuristas, muitos ainda defendem a preservação de comandos simples e intuitivos.
Stefan Hartung, CEO mundial do grupo Bosch, não descarta possibilidade dos carros nadarem e voarem nos próximos 60 anos
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O carro dos próximos 60 anos será mais inclusivo?
Dados dizem que sim. De acordo com o Datafolha, 45 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência. Em nível global, 1 bilhão é o número de cidadãos com deficiência economicamente ativos. Além disso, segundo dados do Censo Demográfico, entre 2010 e 2022 a população idosa no Brasil aumentou em 56%.
Com os avanços tecnológicos, parcelas marginalizadas da população começam a ocupar mais espaços e adquirir maior independência. De acordo com dados do Google, o mês de agosto de 2024 registrou aumento de 251% na busca por carros para PCD. Além disso, a procura por veículos eletrificados por parte de pessoas com mais de 60 anos e com deficiência registrou aumento anual de 236% e 824%, respectivamente, o que indica que há a vontade por parte desses grupos de consumir novas tecnologias.
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