Especialistas debateram futuro da mobilidade e discutiram sobre como o carro vai se inserir na cidade de amanhã O primeiro Summit Futuro da Mobilidade, uma iniciativa da Autoesporte e do Valor Econômico, foi o cenário para a discussão sobre como as pessoas vão se movimentar com novos combustíveis, uso do etanol, do hidrogênio verde e como o carro vai se inserir nas cidades de amanhã.
O evento foi realizado nesta quarta-feira (16) no Boulevard JK, em espaço da Bisutti. Três painéis reuniram especialistas e lideranças do setor automotivo para debater soluções a respeito da mobilidade para os próximos anos. A realização do Summit Futuro da Mobilidade contou com o apoio de BYD e Hyundai.
O primeiro painel adotou como tema “As energias que descarbonizarão os carros do futuro: híbridos com etanol, elétricos e o fator hidrogênio”. O debate teve participação de Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD, Roberto Braun, diretor de comunicação e ESG da Toyota, Gleide Souza, diretora de assuntos governamentais da BMW, e Anderson Suzuki, diretor de desenvolvimento de hidrogênio da Hyundai.
Alexandre Baldy, Roberto Braun, Gleide Souza e Anderson Suzuki durante a primeira mesa mediada pela jornalista Marli Olmos, do Valor
Murilo Góes/Autoesporte
Uma das discussões, inclusive, foi justamente sobre o uso do hidrogênio nos carros. O combustível é apontado como uma das principais soluções para o principal gargalo da eletrificação, que é a criação de pontos de carregamento das baterias.
“Para a Hyundai, o hidrogênio é uma meta, mas ainda temos um longo caminho para percorrer. Estamos há quase um ano tratando de parcerias e é apenas o início de uma nova tecnologia e os custos são altos. Buscamos soluções para mostrar aos governos que é possível fazer esse processo de descarbonização da indústria”, disse Suzuki.
Braun reforçou que a Toyota também estuda a estrutura do hidrogênio no Brasil. O executivo lembrou, aliás, que a montadora conduz estudo em parceria com a USP para produzir hidrogênio a partir do etanol. Para isso, a fabricante deixou à disposição da instituição o Mirai – veículo movido pelo gás que, no exterior, vem causando certo rebuliço.
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No campo da eletrificação a bateria, Gleide Souza, da BMW, confirmou a produção do primeiro híbrido plug-in nacional da marca, o X5, que começa a ser feito em Araquari (SC) nas próximas semanas. “A gente coloca isso como passo importante por ser o primeiro plug-in da América do Sul. O X5 tem a tecnologia que engloba o melhor de dois mundos, com motor elétrica e a busca pela eficiência do motor a combustão”, afirmou.
Já Alexandre Baldy, da BYD, disse que a montadora entende que o Brasil é um país que tem abertura a novas tecnologias e relembrou que a BYD não faz só carros de passeio, mas ônibus. Citou ainda que a frota paulistana é de 13 mil ônibus a combustão e defendeu a eletrificação, mas que tudo isso depende da infraestrutura de carregamento.
“Essa transição energética é a particularidade de cada geolocalização e o Brasil tem uma produção energética fantástica. O país dá uma lição global de utilização de todas as matrizes energéticas limpas”, disse Baldy.
O carro no trânsito
Já a segunda rodada de conversas foi sobre a “Evolução da mobilidade: o papel do automóvel na cidade do amanhã”, que reuniu Meli Malatesta, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, Ingrid Barth, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABS), Diego Lira, sócio da Turbi, e Thiago Hipólito, diretor de Inovação da 99.
Diego Lira, Ingrid Barth, Thiago Hipólito e Meli Malatesta na segunda mesa, que teve mediação de Cauê Lira, repórter da Autoesporte
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Malatesta levantou um tema importante, que é a segurança no trânsito. Para ela, congestionamentos tiram um tempo precioso da vida das pessoas em que elas poderiam fazer algo mais produtivo. “Não importa se é movido a gasolina, diesel ou eletricidade, cada carro vai ocupar o mesmo espaço”, afirmou.
A especialista disse ainda que a solução da mobilidade passa por uma transformação urbanística, onde as calçadas sejam mais convidativas para uma caminhada e citou cidades como Seul, Nova York e Paris – onde grandes complexos viários deram espaço a ambientes urbanos mais agradáveis.
Já Ingrid exaltou o Brasil e disse que o país tem potencial para ser um líder global em mobilidade. “Visitei uma universidade na Turquia e fiquei chocada ao saber que eles não conheciam o nosso etanol, uma solução renovável e limpa. Além disso, citou que modais de transporte podem ser complementares.
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“Quando falamos em mobilidade não é só o carro, que é importante, mas incluímos bicicletas, patinetes, e corridas compartilhadas. Falta uma coleta de dados para juntar pessoas com origens e destinos parecidos para viajarem juntas. Temos que pensar em estruturas que facilitem a interligação entre esses modais, como bolsões de estacionamento e estações de ônibus”, ressaltou.
Outras soluções apontadas para a diminuição do tráfego são o compartilhamento de veículos e a eletrificação da frota de aplicativos. Hipólito, da 99, contou que São Paulo é a cidade recordista em viagens por aplicativo e espera que, até 2040, 85% de seus carros sejam elétricos.
“Com carro elétrico, o motorista consegue uma redução de custos e, com isso, pode melhorar sua qualidade de vida trabalhando menos, já que ganha mais. Além disso, a experiência melhor do usuário em um elétrico é melhor, fazendo com que dê gorjetas maiores”, comentou.
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A eletrificação ainda não está presente na Turbi, mas o sócio Diego Lira crê que o serviço de carsharing ajuda a mobilidade de outra forma. Segundo o executivo, cada carro compartilhado tira outros 13 das ruas e que 50% dos seus clientes não possuem um automóvel próprio.
“Eu ainda não sei como vai ser a manutenção de um carro elétrico e meus clientes costumam rodar em média 250 km, então vou enfrentar um problema de recarga, mas o carro elétrico não vai ficar sozinho no futuro. Vai ser uma junção de tecnologias”, acredita.
Infraestrutura é o desafio
Pedro Paulo Oliveira de Moraes, CEO da Tupi Mobilidade, Alexandre Miyahara, CEO da Circuito, Afranio Spolador, diretor de tecnologia da Ecorodovias, e Rafael Rebello, diretor de Power Mobility da Raízen Power, formaram a terceira e última mesa de discussões. Esta teve como tema “A infraestrutura brasileira para carros híbridos, elétricos e conectados”.
Afrânio Spolador, Alexandre Miyahara, Pedro Paulo Oliveira de Moraes e Rafael Rebello na terceira mesa do Summit mediada pela repórter Jady Peroni
Murilo Góes/Autoesporte
Para Miyahara, da Circuito, o futuro passa pela tecnologia de coleta de dados e diz que sua empresa está investindo em carregadores rápidos na cidade de São Paulo. “A ideia é rechear as marginais e pontuar o centro da cidade com pontos de recarga, mas precisamos de informações para saber onde e quantos carregadores precisam ser instalados”, afirmou. “Carregadores e baterias estão evoluindo naturalmente. O próximo passo é trabalhar dados para gerenciar essas recargas.”
A forma de recarregar foi outro tema de discussão. Para Rebello, da Raízen, uma junção de fatores vai atender melhor ao cliente em determinados momentos. “Dependendo do perfil, o usuário vai escolher qual é melhor, se carregar seu carro na rua ou em casa, mas o importante é que todos eles funcionem em conjunto”, disse. “O Brasil tem um desafio, os prédios podem não ter essa estrutura, então a combinação é que vai fazer um ecossistema que atenda bem ao consumidor”.
O que leva ao problema de longas viagens e nisso entram os pontos de recarga em rodovias. Para Spolador, dá para ter um transporte rodoviário sustentável com algumas adaptações, como a troca rápida de baterias, parcerias com empresas de carregadores e a segurança nos pontos de recarga.
“Precisamos cuidar para que o dono do carro espere a recarga completa em segurança e no menor tempo possível, por isso precisamos de uma estrutura de carga rápida disponível”, disse.
Até o apagão recente em São Paulo é uma preocupação para a eletrificação. Segundo Moraes, 7% dos carregadores da Tupi ficaram parados ao longo do fim de semana. Miyahara culpou a falta de planejamento. “Existe a necessidade de de uma conversa conjunta para fazer um planejamento para resolver esse problema”, afirmou.
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