Carro nacional mais veloz e potente de sua época busca redenção como artefato de colecionador; veja como foi a restauração Talvez não tenhamos sido justos com o Volkswagen Golf a partir de sua reestilização de 2007 — conhecida como “geração 4,5”. Havia motivos para rejeitá-la, como a defasagem em relação ao modelo europeu, duas gerações à frente. Mas a versão GTI ofereceu um alento aos que buscavam um hatch mais nervoso, e ainda ficou eternizada como o carro nacional mais potente e veloz de sua época.
Por dois meses, Autoesporte acompanhou a restauração de uma das 246 unidades do Golf GTI 4,5. Após mais de uma década guardado no acervo da engenharia, o hatch será exibido na Garagem Volkswagen, o memorial da fabricante em São Bernardo do Campo (SP). Sorte a minha, que fui um dos últimos a dirigi-lo antes que virasse artefato de museu. Eis que trazemos quatro motivos — e meio — pelos quais o esportivo merece ser lembrado por aqueles que sempre torceram o nariz para ele. Assista:
1- Esportivo de verdade
Em um mundo cheio de esportivos “fake”, o GTI entregou o que era proposto. A receita trazia o motor 1.8 turbo de 20 válvulas da família EA113, homologado com gasolina de alta octanagem. Entregava 193 cv a 5.500 rpm e 25,5 kgfm a 1.950 rpm — números que proporcionavam uma aceleração de zero a 100 km/h em 7,5 segundos e velocidade máxima de 220 km/h. O câmbio poderia ser manual ou automático do tipo Tiptronic, sempre com cinco marchas.
Volkswagen Golf GTI 4,5 foi meticulosamente restaurado; veja o que foi feito a seguir
Murilo Góes/Autoesporte
Processo de restauração inclui polimento da funilaria e a correção de lascas causadas por pedras
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Graças à homologação com combustível premium, o GTI superou por 1 cv o Honda Civic Si, que até então ocupava o posto de carro nacional mais potente e veloz do país, com 192 cv. O torque cheio entregue em baixas rotações, peculiaridade dos motores turbo, foi uma das vantagens do hatch contra o modelo japonês, principalmente nas arrancadas. O Honda Civic era aspirado e precisava de 7,9 s para chegar aos 100 km/h.
Homologar o motor 1.8 com gasolina premium foi a sacada da Volkswagen para superar o Civic Si
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2- Preparação além da estética
A Volkswagen caprichou nos incrementos dinâmicos do Golf GTI 4,5: as pinças de freios foram importadas da Alemanha; a suspensão foi totalmente retrabalhada para que os amortecedores ficassem mais rígidos; e o sistema de escape era exclusivo. De fato, é um carro de dinâmica bem firme até para os padrões atuais.
Parte de suspensão teve as maiores alterações; molas, amortecedores, coxins e batentes eram novos
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Os pneus largos, nas medidas 205/55 R16, fazem leitura precisa do atrito com o solo, característica que contribui para a clareza dos movimentos em manobras rápidas. O volante tem excelente empunhadura, mas é duro até quando comparado ao de versões mais recentes do hatch.
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O GTI oferecia um pacote de assistências como controles de estabilidade e tração, bloqueio eletrônico do diferencial e sistema de distribuição de frenagem. Tudo isso para domar seus quase 200 cv de potência.
Lanternas traseiras com design arredondado eram inspiradas nos motores de aviões
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3- Atenção aos detalhes
Bancos de couro com aquecimento, teto solar elétrico, computador de bordo, retrovisores com desembaçador, sistema de mídia “double din” com preparação para DVD, spoiler traseiro… O Golf GTI 4,5 tem o mérito de também ter sido um dos carros brasileiros mais equipados do final da década de 2000.
Painel do Volkswagen Golf GTI dá inveja em muitos carros novos
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Some isso ao bom acabamento interno, com materiais emborrachados e revestimento de couro, e teremos um hatch convincente até em comparação com modelos atuais. Felizmente, seu sucesso inspirou a versão GT, que trouxe vários desses itens em um pacote mais comedido, com motor 2.0 aspirado de 120 cv e 17,3 kgfm. Nesse caso, a estética se sobressai.
Famoso sistema “double din” recebeu este nome por causa dos dois andares do rádio do VW Golf
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4- Exclusividade
Só 246 unidades do Golf GTI 4,5 foram produzidas em São José dos Pinhais (PR) entre 2008 e 2009. A demanda é sempre maior que a oferta, e isso fez com que o hatch parasse na mão de colecionadores que, inevitavelmente, inflacionaram o mercado. Os valores não respeitam a Tabela Fipe e exemplares pouco rodados podem encostar em R$ 90 mil nas principais plataformas de venda online.
Poucas pessoas no Brasil se orgulham em serem donas do Volkswagen Golf GTI 4,5
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4,5- Retrato de uma época
Eis um bônus: o Golf GTI 4,5 é um recorte da nossa história que ficará no passado. Se importar a “geração 8,5” do hatch esportivo já foi um processo árduo para a Volkswagen em 2024, imagine produzi-lo no Brasil novamente. É inimaginável.
Bancos tinham até função de aquecimento analógico
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Após um hiato de cinco anos, o Golf GTI voltou ao Brasil e foi estrela do estande da marca no Rock in Rio. O carro, ainda apresentado como um mero modelo de exibição, tem motor 2.0 turbo de 265 cv e 37,7 kgfm. Para sacramentar esse retorno, nada como eternizar a versão 4,5 no acervo histórico da marca. Agora, seu devido valor será reconhecido.
Ficha técnica: VW Golf GTI 2008
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